terça-feira, 31 de agosto de 2010

CAP 2

A feira da aldeia é quinzenal, Linda, ajuda o pai todos os quinze dias a vender produtos que produzem na sua pequena quinta. Vendem flores, aromáticas, fruta, mel, compotas elaboradas com frutas do seu pomar; quem passa pela banca é como que passasse por uma perfumaria, a mistura de cheiros é extasiante.
O negócio vai dando para o sustento da casa, mas não há dinheiro para luxos. O maior luxo que há dentro de casa é a sua beleza que ofusca tudo e todos, provoca cobiça e ciúmes e ilumina o caminho por onde passa. Na aldeia as mulheres não a querem como amiga, corre o boato que ela enfeitiça os homens.
Austero, assim se chama o pai de Linda, recebe a notícia de que irá ser expropriado de suas terras e fica sem chão. Um Conde maldoso e sem escrúpulos pretende edificar em sua propriedade e consegue provas de falta de pagamentos por parte de Austero, arranjando maneira de o por dali para fora.
Enquanto este aguarda no café da aldeia a chegada de um representante do Conde para uma informal conversa, o malvado passeia-se pela povoação admirando o seu entorno, observando minuciosamente algum foco de interesse e parando justamente frente a Linda.
- Deseja alguma coisa?
Esboça um sorriso simpático mostrando muita dedicação por agradar os clientes; mas ele olha-a como se lhe fosse indiferente, observa a banca que hasteava uma bandeirola com o nome da quinta e continua o seu percurso com as mãos dadas por detrás das costas.





Ao chegar ao encontro de seu representante, que já se encontrava com um monte de papelada espalhada em cima da mesa e de Austero que escondia a cara entre as mãos e apoiava os cotovelos na mesa, puxa de uma cadeira de rompante e cumprimenta-os, alarmando Austero, fazendo-o voltar á terra, já que este se encontrava incrédulo não querendo acreditar no que lhe estava a acontecer.
O seu modo arrogante provocava escala frios a qualquer comum mortal, a sua tez pesada, as marcas de maldade cravadas em seu rosto e algumas cicatrizes bem vincadas no mesmo dão-lhe mais que os quarenta e poucos anos que em verdade tem.
- Bom, eu vou direito ao assunto.
Intervém o Conde sem mais conversa.
– Caso com a sua filha e esquecemos este assunto.
Austero mantém-se imóvel, sem conseguir retorquir.
- Tem até amanhã para dar a resposta ao meu assistente.
Levanta-se sem mais e sai.
Mantêm-se ambos estáticos, pois, nem mesmo o representante do Conde estava á espera deste desfecho.







Austero caminha a pé e dirige-se para casa, mas aproveita a caminhada para pôr a cabeça no sítio. Será essa a solução para todos os seus problemas? Estará a filha mais protegida e estabilizada financeiramente num futuro, já que ela só o tem a ele?
- Um pai não tem de fazer estas escolhas!
Fala Austero com a sua consciência e ficando revoltado com o seu destino.
- A vida é tão injusta!
Diz apertando as mãos e rangendo os dentes com ira.
- Porque não pôde eu dar á minha filha tudo o que ela merece. Tão linda, merecia ter tudo e eu nunca consegui dar-lhe nada.
Leva as mãos suadas á cara, misturando a humidade das mesmas com as lágrimas que lhe escorrem pela face abaixo.
- Elsa sempre sonhou com o melhor para ela e eu que sempre pensei só em mim, nunca tive tempo para elas nem nunca as vou poder compensar. Não tenho nada. Como a vida é injusta. Ela é tão linda, merece ter tudo.
- É o melhor para o seu futuro.
Ele sabe que no pouco tempo que lhe resta nunca conseguirá pagar as suas dívidas.






Austero não casara novo. Enquanto sua mulher foi viva, nunca deu muita atenção á filha, nunca foi um pai presente. Deixou a sua rudeza, falta de jeito com o coração e dificuldade em exteriorizar sentimentos apoderarem-se da sua vida, mantendo a família em segundo plano.
- Amava-a á minha maneira, mas amava. Acho que nunca lho disse, se disse não me lembro, faz tanto tempo. Tenho saudades dela, eu sei que morreu de tristeza, por minha culpa, nunca lhe fiz ver o quanto era importante para mim, mas era. Se aqui estivesse sabia o que fazer, eu estou cansado e perdido.
- O melhor para Linda é casar com o conde, nunca lhe faltará nada.
Fecha os olhos sentado num banco e tenta recordar o rosto Elsa, na esperança que ela lhe afague a cabeça e que lhe diga que descanse, que tudo se há-de resolver.







Às vezes a vida é mesmo injusta. Mas talvez seja uma lição, todos aprendemos algo até com as injustiças.
Austero decide o futuro da filha, para ele, o melhor, para ela, a sua ruína.

domingo, 29 de agosto de 2010

CAP 1

O dia esconde-se. Dentro de pouco o meu corpo estático vai-se libertar…já não sei…perdi o tempo…ou ele fugiu de mim. Há quanto tempo observo, sem nada dizer, sem poder agir…a minha carne transformou-se, não envelheço, mas o meu corpo que tanto foi desejado foi-se. A tristeza consumiu-mo, quem me olha não imagina o que com ele fizera…







A música ouve-se ao longe. A brisa corre lenta e cálida, afaga-me o rosto. A brisa e o cheiro das flores perfumam-me a pele e dos cabelos solto um doce cheiro a mel quando o sopro quente me toca.
Não resisto a soltar o corpo quando, de longe, a música me chama. Adoro dançar, o som apodera-se de mim e como que possuída por algo de bom me sinto, sinto-me tão feliz!
Já não me lembro da última vez que fui á festa na aldeia…talvez desde que a mãe morreu, o pai não é dessas coisas, não gosta muito de música, não é muito alegre. Por isso venho escondida até ao bosque, onde consigo ouvir a música que vem da aldeia, fecho os olhos e sinto-a no corpo, como se fizesse parte dos meus movimentos mais inconscientes e os meus sentimentos libertam-se…sinto-me tão livre e feliz…tão livre.







- Onde será que se meteu?
Algum bicho interessante deve andar por aí!
Assobia… o seu assobio faz lembrar uma ave nocturna.
- Cão dum raio. Como vou encontrá-lo no meio desta mata.
Ao longe, o som da música indica-lhe a distância percorrida. Não estava previsto este passeio nocturno ao lago.
-Como é diferente o lago à noite.
Assobia novamente, mas entre todos os sons emitidos o seu mistura-se ecoando junto da melodia.
Entre a brisa que corre, os murmúrios que transporta vindos da natureza e o aroma fresco do bosque, um mais quente e doce desperta-lhe os sentidos e rapidamente uma melodia sussurrada também lhe chama a atenção e esconde-se… sem saber o porquê, com uma tenção no estômago, como se de uma alma do outro mundo se estivesse a esconder.
Foi na clareira perto do lago que ela a vira pela primeira vez. Mesmo no escuro da noite, agachado por entre os robustos carvalhos, quase sem respirar e as gotas de suor a escorrer-lhe cara abaixo enchendo-lhe os olhos de água e turvando-lhe um pouco a vista.
Fecha os olhos e o cheiro a mel inunda-lhe o espírito atormentando-o. Abre os olhos lentamente, como uma criança assustada á espera que o homem do armário já se tenha ido embora e não tenha passado de uma assombração, mas ela ali está, agora mais nítida, linda, sensual nos movimentos, não quer acreditar, quer que o tempo pare e não exista mais nada além daquele lago no bosque. A sua dança é pura magia, como se estivesse a falar para ele através do corpo, como se já se amassem e ela estivesse a dançar só para ele. Fecha novamente os olhos e inala-lhe o odor, como se de ele se estivesse a alimentar para ganhar forças e prosseguir. Abre os olhos e ela desaparecera. Fica na duvida se sonhara ou se realmente fora uma alma do outro mundo.
- Não, não pode ser as almas não cheiram assim.
Diz em voz baixa, quase só em pensamento.
Como a noite estava clara, desloca-se com bastante habilidade e rapidez por entre as árvores e sem pensar no que ali o tinha levado prossegue a perseguição em busca daquele doce cheiro a mel e ervas doces. Vislumbra dois vultos em movimento, abranda o paço e observa. O perímetro do bosque acabara, ela já não dançava, mas os seus movimentos eram encantadores, começa a contornar-lhe as formas. Ela agacha-se e pega no outro vulto, pequeno, ao colo e começa a deslocar-se rapidamente em direcção á aldeia. Logo ali uma casa, um candeeiro de rua ilumina-lhe o rosto. Sustem a respiração durante algum tempo! O sangue circula-lhe cada vez mais lento pelo corpo, mas o coração bate-lhe quase saltando do peito e rasgando-lhe a pele como se de um animal selvagem exausto depois de um confronto se tratasse.
- Linda!
Sussurra abanando a cabeça, como se lhe custasse a acreditar no que via.
O vulto que transportava no regaço, deixa de o ser, passa a ser cão…o seu. Salta-lhe do colo e com o rabo a abanar e ladrar familiar dirige-se a ele, o que o deixa pouco á vontade. Sem outra saída por um lado e não querendo outra, por outro, dirige-se-lhe lentamente para não a assustar. Ela baixa-se e pega numa pedra, mas ao mesmo tempo a sua figura não lhe causava pária.
- Está tudo bem. O cão é meu. Desculpa se te assustei.
Sem receber nenhuma resposta ou intervenção continua.
- Perdemo-nos no bosque. Pensei que andasse atrás de algum animal. Obrigado.
Faz o gesto de ir embora, mas, a sua voz melodiosa intervém.
- Veio ter comigo, acho que simpatizamos um com o outro.
Os dois baixam a cabeça envergonhados e ficam alguns segundos em silêncio, até que o cão observa os dois, sentado, e depois ladra, como se estivesse a querer ser intermediário. Levantam a cabeça e fitam-se pejados de desejo.
- Costumas passear sozinha á noite no bosque?
- O bosque é a minha casa. Não me dá medo. E tu costumas passear o cão e perdê-lo?
Ele solta uma risada.
- Não.
-Não? Passear o cão no bosque ou perdê-lo?
- Nenhuma das duas. Ele hoje por algum motivo correu para o bosque, eu chamei-o varia vezes e ele não respondeu.Vim atrás dele.
- Talvez me quisesse conhecer!
Baixa a cabeça, leva a mão á boca e solta uma risada.
- Talvez estivesse destinado encontrarmos-nos e ele foi o intermediário.
Responde ele e faz-se um silencio gelado.
- Bom, tenho de ir… Boa noite.
Afaga a cabeça do cão, que abana desenfreadamente a cauda e lhe lambe as mãos e afasta-se.
-Posso ver-te de novo?
Pergunta-lhe ele sem pensar muito na pergunta, deixando o coração tomar essa iniciativa.
Depois de um tenso momento de pausa ela olha-o como se já se conhecessem há muito tempo e já houvesse cumplicidade entre eles.
- Encontramos-nos um dia destes no lago.
Por alguma razão ela sabia que ele iria ao seu encontro logo que possível.
E sem nada saber um do outro sonharam a noite inteira com o seu misterioso amor.
A partir de agora,vou publicar semanalmente um capitulo do meu conto. A intenção desta minha página, é poder partilhar com quem queira conhecer esta minha obra,já que não o posso publicar, por enquanto, se tiver aceitação...quem sabe um dia. Uma linda história de amor entre duas criaturas, hoje em dia mágicas,outrora humanas. Habitam num labirinto mágico e tentam solucionar enigmas para conseguir de lá sair.
Toda esta história será apresentada pela primeira vez e estará exposta a 12 de Novembro de 2010 na casa da cultura de Elvas.
Vão aguçando os vossos sentidos, pois vão precisar deles.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

VARIANTES DO SONHO

Noutro tempo, em prol de um amor impossível, o seu corpo deixou de lhe pertencer. Era linda e graciosa, pequena e o seu jeito alegre e sedutor não era indiferente a ninguém que pusesse os olhos nela. Achavam que ela enfeitiçava os homens. Adornada, prendia-lhes os olhares!
O seu pai tirano, prometera-a contra sua vontade por dinheiro a um malvado e avarento conde que os expropriara de suas terras, em troca, a beleza de sua filha selaria o pacto.
Numa noite de Outono quente, durante um passeio fugidio pelo bosque, junto a um lindo lago, seu amado secreto, um lindo cavaleiro, “ também ele prometido desde que nascera, por imposição e tradição familiar, a uma mulher amarga e má que não sabia o que era amar”, procura-a pelo odor, tentando separar as essências e encontrando-a por entre todas. O desejo que sentem um pelo outro cega-os, os olhares invejosos deixam-nos indefesos. O tirano segue-lhes o rasto por despeito, a mulher que tem como sua, rejeita-o como homem. Em sua companhia, o mal veste a pele de dama, incorpora a distinta presunçosa e ignorada futura mulher do belo cavaleiro, que de tanta inveja da beleza da donzela e ciúme do amor que nutriam um pelo outro lhes lança um feitiço, prendendo-os para sempre entre o bosque e o lago, num labirinto, sendo o feitiço quebrado se conseguirem do mesmo sair os dois.
Presos a um corpo imóvel durante o dia, durante a noite submersos numa contradita luta entre o medo e o amor, que seu corpo mutante separa. Ele segue-lhe o rasto, procura-a pelo cheiro, que conhece tão bem, …segue a sua essência, distingue-a por entre todas as outras. Protege-a dos olhares promíscuos e invejosos. Por vezes o bosque mancha-se de sangue, o seu instinto leva-o a matar, mas a ela nunca lhe faria mal; Ama-a. Nunca a esquecerá! Não da mesma forma que ela, pois não tem consciência humana. Não a deixa libertar-se do feitiço, não a deixa encontrar a saída, pois não a quer perder.
Pequenos seres acompanham-na sempre, seguem-na a todo o lado, também assumem formas mutantes, fazem-lhe companhia e ajudam-na a resolver charadas e enigmas que lhe abrem o caminho do labirinto. Deixam-se vaguear por entre mundos mágicos. Não tem pressa! Anseia libertar-se, mas sem ele não faz sentido, sozinha não pode e tenta encontrar a maneira de o conseguir seduzir até á saída, mas o seu feitiço não o liberta daquele sítio, o único sitio onde ele reconhece o seu cheiro, onde ele a segue e não a perde, fora dali nunca a encontraria.
Assim, todas as noites ela luta por um amor impossível, sonha com o amante pelo qual se perdera de amores, no que os unia, deseja-o, sente-o, vê-o de longe, através dos seus olhos nunca deixara de o ver com o olhar do amor, enquanto ele se esconde de forma predadora, protege-a secretamente, observa-a de longe, sente-lhe o cheiro e mata para a salvar dos olhares.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

   Esta história é um conto. Mas não é infantil!
   É uma história encantada num cenário encantador.
   Muitas vezes assemelha-se a algumas fábulas conhecidas, mas a sua história é única.
   O destino não os deixa estar juntos, mas hão-de está-lo sempre.
   Espero que sigas esta história, que te envolvas e te deixes seduzir.

VARIANTES DO SONHO

A partir deste blogue podes seguir e comentar a história malfadada desta donzela e seu grande amor.