sábado, 11 de setembro de 2010

CAP 9

Em casa dos Wolf os hábitos familiares sempre foram prioritários. Mas neste momento a família estava voltada do avesso e Anthony recusa-se a partilhar as refeições com o filho, deixando Gray e a mãe sozinhos.

Ele não abre a boca durante o jantar, a sua mãe mal toca na comida deixando um clima de tristeza na casa.

- Mal comeste mãe, não te vi levar comida á boca durante o jantar.

- Não sei como podes saber isso, também não te vi olhares-me durante a refeição, estiveste com os olhos cravados no além, olhando a janela, o tempo todo.

- Há coisas que eu não entendo. O que tem o conde a ver com os camponeses dos arredores do bosque?

- Porque perguntas isso? Foste á casa grande? Falaste com ele?

- Expulsou-me. Fui atrás dele e ele e os seus homens estiveram toda a tarde na casa de um agricultor local perto do bosque e eu achei isso muito estranho.

Diz ele arranjando uma forma subtil de justificar a sua ida até á casa de Linda e coincidindo com a ida do conde até á mesma.

- Não sei qual será a ligação. Apesar de…, agora me lembro, do teu pai comentar comigo que Felon pretendia fazer um hotel por aquelas bandas. Talvez seja isso.

- Um hotel no bosque? Mas isso é um crime!

- Mas quando é que tu achaste que ele não era um criminoso? Ele é isso e muitas coisas, como perigoso. O poder fez dele um homem ruim.

Este discurso da mãe deixa Gray ainda mais preocupado com a situação de Linda.

- Mãe…lembras-te de te ter dito hoje que tinha conhecido uma rapariga pela qual me apaixonei?

Apoia os cotovelos sobre a mesa e segura a cabeça baixa entre as mãos.

- Chama-se Linda.

Levanta a cabeça e endireita-se um pouco na cadeira e olha descontraidamente para um lado e para o outro confirmando a sua privacidade, mostrando um pouco de descontracção para falar com ela.

- Ela mora nessa casa, mas eu não sei nada sobre ela, receio que corra perigo.

- Como não sabes nada dela? O que queres dizer com isso? Está desaparecida ou…

- As duas coisas mãe, mas o amor que sinto por ela faz-me acreditar que é uma boa pessoa, isso não duvido. Mãe, tu não imaginas a atracção que nos junta, não é uma coisa mundana, pertence a outro nível.

- Filho…tem cuidado contigo. O amor leva-nos a cometer erros, dos quais, mais tarde nos vimos a arrepender.

- Não mãe com a Linda é diferente, eu sinto-o de uma forma surreal. Não poderia enganar-me dessa forma. Eu sinto que ela corre perigo e não sei como ajudá-la. Não posso aparecer á sua casa, tem lá os homens daquele criminoso, não tenho maneira de falar com ela.

Levanta-se da cadeira ansioso agarrando a camisola e torcendo-a na zona do peito e começa a andar pela sala de jantar. Inspira o ar que consegue a solta-o para descarregar a ansiedade de uma só vez.

Volta as costas repentina á mãe e prepara-se para sair.

- Onde vais? Não acabas a de comer?

Pergunta Rosa ao filho em tom preocupado, afastando-se rapidamente da mesa e pondo-se de pé.

- Tenho de saber dela. Vou ver se consigo descobrir alguma coisa ou então se consigo falar com ela.

- Por favor não vás, tem cuidado. Não quero que te aconteça nada. Dava a minha vida por ti e morria se te acontecesse alguma coisa.

- Não te preocupes mãe. Não vou deixar que me façam mal, fica descansada e não te rales mais…e come.

Remata, segurando-a na nuca docemente e beijando-lhe a testa. Sai, deixando para trás a flor de cheiro suave, que o adora e protege com orações.















Volta á casa de Linda. Pelo caminho, o bosque fala com ele e aconselha-o. Tem de ser astuto, para conseguir chegar até ela sem ser descoberto, não sabe o que poderá encontrar pelo caminho, mas tem o pressentimento de que não é nada de bom, a angústia corrói-lhe o peito, tem o seu corpo sob tensão. Como era possível a sua vida ter dado uma volta tão grande de um dia para o outro?

O seu amor por Linda é tão puro, porque não podia estar com ela?

Aproxima-se da casa. Espreita por entre as sebes…habitua a vista á nova luz e começa a aperceber-se dos movimentos.

O carro de Felon está estacionado em frente á casa, a luz do candeeiro contorna as silhuetas.

O vulto de Linda está estático em frente da casa, olhando a sua frontaria. O seu corpo vestido de viagem, segura com as duas mãos pendentes e bem serradas uma pequena mala.

- Onde irá ela com o conde?

O cérebro de Gray congela, não consegue pensar, olha a situação de longe, mas não sabe como reagir.

Se ela está a ir com ele a algum lado, não posso evitá-lo, não tenho o direito de me meter na vida dela, ela parece tranquila, não me parece que esteja a ser obrigada, mas parece que se está a despedir. Não a vou ver mais? Onde vais com o conde.

Pergunta-lhe em pensamento, como se ela o conseguisse ouvir e lhe fosse dar resposta.

















Linda observa todos os pormenores da fachada, para quando fechar os olhos se tele-transportar até ela, conseguindo quase tocar-lhe. Olha os vasos, que rega todos os dias com tanto bem-querer, com as quais mantém conversas sobre beleza, que tanto a inspiram. Sente a presença do amor, olha calmamente na direcção do bosque e sente a presença de Gray, sem nada poder fazer, resignando-se.

Felon dá ordem de a “ ajudar” a entrar no carro, dirigindo-se-lhe um dos seus gorilas pegando-a no braço, ao qual Linda reage com um safanão, agitando o tronco a fim de soltar-se.

- Ela não quer ir, agora sei. Ela não quer ir. Nisto tenta passar a barreira de sebes que circunda a casa a fim de impedir que a levassem, mas não dá tempo.

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