sábado, 25 de setembro de 2010

CAP14

Arqueado, com a mão a segurar o estômago, corre rasgando o bosque. Precisa chegar a casa de Linda e alertar o seu pai, fazendo-o cair em si e no resultado da sua atitude. A casa está próxima, já se avista, O sol está alto e a manhã quente, Gray encosta a mão á parede da casa, sente o calor que dela vem, tenta respirar fundo, mas as dores nas costelas impedem-no de o fazer. O calor da pedra carrega-lhe algumas energias que o fazem continuar. Bate á porta. Ninguém abre. Procura a presença de alguém no jardim e quintal, curva a esquina da casa. Á sua frente, um vulto a contra luz, pende balançante de um carvalho. Gray recorre ás suas ultimas energias e dirige-se-lhe correndo. Procura. Uma cadeira jaz caída. Pega nela. Levanta-o pelo tronco. Grita de dores. Não consegue. Salta da cadeira, grita e chora de raiva ao mesmo tempo. Seria ele o pai de Linda? Só o vira uma vez. Procura algo cortante. A expressão daquele homem. Sobe novamente, corta a corda e trá-lo para o chão. Posiciona-lhe bem a cabeça., alarga-lhe a corda no pescoço, sente-lhe o pulso. Acabou. Olha-o, com a sua mão na do defunto, fala-lhe, diz-lhe que ama a filha e que fará tudo para salvá-la. Do bolso do seu casaco um pedaço de papel deixa-se ver. Gray puxa-o. Uma carta dobrada. Desdobra-a.
- Para Melinda.
Gray dobra-a novamente e mete-a no seu bolso. Levanta-se, leva as mãos á cabeça. Tem de avisar a polícia. Tem de sair dali e denunciar Felon. Seria suicídio, ou teria algum mandatário? Estava todo rasgado, sujo, tinha dores no corpo todo. Dirige-se a casa, ali já não podia fazer nada.







Rosa vê o filho entrar em casa naquele estado e desespera.
- Passei a noite em claro sem saber de ti. Já sabia que alguma coisa ruim tinha acontecido, o coração de uma mãe não se engana. O que foi que fizeram contigo?
- Agora mãe não posso explicar. Preciso de ligar para a polícia. Está um homem morto na casa junto ao bosque. Alguém tem de ir lá. Tenho de tomar um banho e ir ao hospital.
- Como é que está um homem morto? Porquê? O que tens tu a ver com isso? Pelo amor de Deus, diz-me o que se passa.
-Não tenho nada a ver com o homem morto. Simplesmente fui eu que o encontrei já moribundo.
- E quem te fez isso?
- Não importa agora mãe. Por favor. Eu depois explico-te. Agora ajuda-me.
Rosa ajuda o filho com auxílio do capataz da casa, a ir até ao hospital, onde o curam e aconselham repouso imediato.
- Duas costelas partidas. Está na hora de falarmos e dizeres-me quem te fez isso.
- Mãe, não te enerves, por favor. Eu explico.
A polícia faz perguntas a Gray. Este fala-lhes do homem que deixara defunto na casa do bosque e do motivo porque se encontrava ali, das suspeitas contra Felon, que mantinha uma mulher refém em sua casa. A polícia dá inicio á investigação, mas informa-o da dificuldade de poder fazer algo sem provas concretas. Pedem-lhe que não se ausente, Gray promete não o fazer. Ele tinha de se manter por perto, tem de chegar até ela, tem de lhe entregar a carta em mão, tirá-la dali, se essa for a sua vontade. E se não é? Ele ouviu-a pela manha, a dar ordens aos homens, como dona da casa. E se ela quer ali ficar? Como irá ela ficar depois de saber o que aconteceu com o seu pai? Tem de falar com ela, vê-la, tocar-lhe, senti-la, cheirá-la.







Linda passeia pela casa, até parar junto de um canteiro de flores a apreciá-lo.
Enquanto isso, no interior da mesma, as duas iníquas instigam.
- Eu nem quero acreditar, no que acabei de ouvir. Se ela julga que me vai fazer frente, está muito enganada. Não outra vez.
Exclama Dee. Cândia, mexe-se de um lado para o outro, pensa sem parar de mexer no cabelo.
Uma joaninha esvoaça de flor em flor, Linda estica a mão e deixa-a pousar nela.
- Tens a mania, não tens?
Cândia pega no pulso de Linda faz alguma pressão, fazendo a joaninha esvoaçar longe.
- Não, porquê?
Responde-lhe descontraidamente.
- Achas-me manienta?
- Acho-te uma parola. Acho que não sabes qual é o teu lugar.
- E qual é?
Cândia olha-a de ar empinado e esboça um assoprado sorrisinho.
- Nem sei quem tu és. A única coisa que sei, é que o dono da casa me trouxe para cá, disse-me que a partir de hoje esta seria a minha casa e eu só quero sentir-me como se estivesse na minha casa.
- Para tua informação, o dono da casa é o meu pai.
- Pois muito prazer, já que dentro de pouco, pelos vistos vou ser a tua madrasta.
Volta-lhe as costas e entra em casa.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CAP13

Felon dá ordens de que preparem um almoço de festa para receber a noiva. Dee lidera a organização do evento. Tenta manter a altivez que a caracteriza, mas sente-se incomodada, ao ponto de se descontrolar no controlo de certas tarefas básicas que desempenha diariamente, sempre com precisão. Não consegue descobrir o porquê de aquela voz, aquela tentativa de olhá-la nos olhos, lhe provocaram tanto desconforto e nervosismo. Trazem-lhe recordações. Estranhas recordações, vindas do passado. Teme a altura em que tem de estar ao pé dela de novo. Não está a saber lidar com essa sensação.







- O quarto é enorme!
Linda aprecia-o. Já que decidira tomar as rédeas da sua história tinha de conhecer o que a rodeava. Aquele quarto tinha sido arranjado para si ou já tinha estado lá outra mulher, nas mesmas condições que ela?
Era um quarto aparentemente acolhedor. Se não fosse a porta estar trancada, ela até poderia sonhar que estava num hotel. A imagem de Gray dá-lhe coragem para seguir com a sua estratégia. Abre gavetas, armários, escrivaninha, tinha ali tudo o que precisava. O roupeiro estava cheio de roupa, maior parte vestidos. Muitos vestidos de festa. Passa-lhes a mão pela textura. Tira alguns para fora, escolhe. Veste-se.






Cândia desce as escadas que conduzem desde os quartos á planta baixa. Vestiu-se para a ocasião. Quer mostrar á nova hospede da casa quem manda ali. O coração palpita-lhe no peito descontrolado, sente-se tensa.
- Vou mostrar aquela campónia quem ela é.
Sussurra entre dentes, esboçando um sorriso cínico. Pretende mostrar a Linda que não está á altura dele, o homem que ele é… mesmo que se tenha de basear em algumas mentiras,do tipo, que é dela que ele gosta, que ele é um mulherengo e que ela sabe bem disso, mas que não se importa porque ele é dela.
Entra na cozinha e procura Dee entre os empregados. Aproxima-se. Encosta-se ao balcão descontraidamente, pega numa maçã de uma taça de vidro, trinca-a e espera que Dee fique sozinha com ela.
- Já a viste hoje?
Dee olha-a, sorri-lhe, observa-a e alegra-lhe o dia.
- Cândia, está muito bonita.
- Achas Dee?
Dá uma voltinha peneirada e retribui-lhe o sorriso.
- Hoje vou arrasar. Vou pôr aquela parola no sitio.
- Claro que sim, nunca foi de perder a fé em si, pois não? A menina não tem rivais á altura.
- Eu sei.
Faz novamente um ar perverso acompanhado de um sorriso.
A sua desde sempre cumplicidade, quase de mãe e filha, vingativas e malvadas para atingir os seus objectivos, selava-se sempre pelas mesmas causas.
- Sabes, aquele livro que me emprestaste dos preparados? Tenho andado a treinar umas misturas.
Encosta-se novamente ao balcão, cruza novamente os pés, trinca novamente a maçã.
- Muito bem.
Responde Dee, continuando a tirar os seus apontamentos para um livro preto e dourado, muito bem encadernado com um fecho elástico. O seu ar soberbo de governanta da casa e os óculos dourados de marca na ponta do nariz dão-lhe altivez. Olha Cândia, ouve-a falar de boca cheia de maçã, observa-a com orgulho. Orgulho de uma mãe, que tem orgulho da obra-prima. Não era sua mãe natural, mas ela é que lhe ensinara tudo o que ela sabia, ela é que a tinha criado, á sua maneira, sem falhas, perfeita, maléfica, sem escrúpulos, sem medo de atingir um fim. Ouvi-la falar assim com tanta determinação, um plano, um esquema, uma estratégia para afastar Linda, soava-lhe a música. Ajudaria a sua filha no que pudesse para a por dali para fora. Baixa a cabeça, volta a escrever, denuncia algum temor, mas disfarça.
- Cândia, está linda. Devia vestir-se assim mais vezes, está realmente esplêndida.
- Noto-te um pouco tensa, ou é impressão minha?
Diz Cândia mostrando também alguma inquietação.
- Fala-me, o que se passa. Alguma coisa que sabes e não me queres dizer? É sobre ela?
- Não gosto dela.
Responde Dee sem levantar a cabeça, continuando a escrever.
- A sua presença incomoda-me.
- Estás com ciúmes Dee?
Pergunta Cândia em tom de graçola sabendo de antemão que Dee sempre gostara do seu pai, nunca no entanto, o tenha confessado.
- Disparate Cândia! Então o respeito, ficou na gaveta?
Responde mostrando-se sisuda e séria. Levanta-se da cadeira e abandona a cozinha com o livro debaixo do braço. Cândia segue-a.
- Então, vá lá, foi uma brincadeirinha, não fiques amuada comigo.
Dee volta-se e fica frente a Cândia, olha-a, deixa-a também séria, semi-serra os olhos, força os lábios a fecharem.
- Nela existem forças que me enfrentam, não é deste mundo. Percebes? Vai com cautela. Juntas, vamos conseguir vencê-la.







O vestido é de um azul esverdeado, contrasta com o dourado da sua pele. Na cabeça tem uma travessa com pedras que prende o seu cabelo de um só lado, deixando o outro lado num ondulado solto. A sala de jantar é ampla, soleada. Linda pede delicadamente aos empregados que abram as janelas para o ar circular e o sol entrar na divisão. Eles cumprimentam-na e dão-lhe as boas vindas com uma simpática e ligeira vénia com a cabeça, mas ela pede-lhes que não tenham esses modos formais com ela. A sua beleza e simplicidade envolve-os em amor. Gostam dela. Nunca serviram assim ninguém lá em casa, a ideia de ter uma patroa assim deixa-os entusiasmados e servem-na com prazer.
Dee e Cândia entram na sala de jantar, onde a mesa já está preparada para o almoço e deparam-se com Linda liderando as tarefas da dona da casa. O misto de raiva e medo petrifica-as á entrada da sala. Dee reconhece-lhe logo o vestido e acessórios e solta-se-lhe um inesperado galope dentro do peito, o seu coração dispara deixando-a á beira de um colapso nervoso. Linda repara nelas e ignora-as, o que as deixa ainda mais irritadas. Aquela mulher movimentava-se em casa como se fosse dela. Despede-se dos empregados e dirige-se a elas.
De ombros bem levantados, os braços caídos, unidos pelas suas mãos, e os dedos entrelaçados, lança-lhes um sorriso.
- Bom dia.
Diz-lhes. Desconhecendo ela a entidade e boa fé das duas, deixa o caminho aberto á dúvida. Não as quer mal. Não as conhece. Tem de saber sondar o terreno. Sente-se nervosa, mas, a preocupação dela por Gray fazem-na desempenhar bem o seu papel. Precisa saber dele e a confiança e poder que puder ter dentro daquela casa, ajudá-la-ão a conquistar a liberdade para poder ir ao seu encontro, falar com ele, explicar-lhe toda a situação. Deseja senti-lo perto, deseja sentir o bater do seu coração. Olhá-lo nos olhos.
Cândia recompõe-se do susto. Endireita-se. Levanta a cabeça e inclina-a indiferente para trás.
Dee faz um sorriso cínico, põe a mão sobre o peito, e discretamente massaja-o a fim de baixar o ritmo cardíaco.
- Obrigada por me ter aberto a porta do quarto.
Volta a falar Linda, fazendo um sacrifício em mostrar simpatia, mas ao mesmo tempo mantinha uma postura muito firme às suas convicções.
- Foi ordem do conde, não precisava descer tão cedo, eu ia chamá-la quando estivesse tudo pronto para almoçar, .
Responde Dee mantendo uma certa cortesia disfarçada de ironia.
- Também não precisa preocupar-se com o trabalho dos empregados, a minha função é fazê-lo.
- Mas eu gosto dessas tarefas e como dentro de pouco vou ser a mulher do dono da casa, gostaria de ser eu a tomar certas decisões…, se não for um problema, claro.
Contrapõe Linda, muito confiante. Esta seria a primeira prova em relação a Dee. A mulher que pelos vistos, desde sempre tivera o papel da senhora da casa. Como iria ela reagir a este roubo de estatuto? Seria uma mulher humilde que aceita a divisão de tarefas como uma parceria, ou iria á disputa do lugar, contra tudo e contra todos?
- Não me parece que faça falta preocupar-se com essas coisas. Sempre desempenhei muito bem esse papel nesta casa, que fique bem esclarecido…, vão-lhe aparecer muitas coisas com que se entreter, tenho a certeza.
- Pois vão certamente, mas a partir de hoje, se o conde realmente me quer para sua mulher, ele irá concordar que eu faça o que me faz mais feliz…, ou não?
Faz-se silêncio na sala. A guerra estava declarada.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CAP12

Os raios de luz aparecem, penetram e iluminam através da janela, deixando-se raiar mais intensamente entre as cortinas.
Linda acorda suavemente, inspirando lentamente como que saindo do estado de meditação profundo. Mantém os olhos fechados, mas sente o brilho do sol através da pálpebra. Aguenta-os fechados mais um pouco. Não quer acordar. Está com medo. Aos poucos, o ligeiro sorriso de quem acorda tranquilo foi desvanecendo, acabando por desaparecer. Não quer acordar. Sente muito medo. Assusta-se, abre os olhos repentinamente e senta-se na cama. O rodar da chave na fechadura tira-a do seu semi-inconciencia e transporta-a até uma realidade á qual não quer pertencer.
A ama entra no quarto com um tabuleiro na mão, sem falar para Linda, volta-se para a porta, segura o tabuleiro só com uma mão e com a outra volta a gira a chave na fechadura, retirando de seguida as chaves da porta, guardando-as num profundo e obscuro bolso.
- Porque estou trancada?
Sentada na cama, endireita o tronco, procura-lhe o olhar, mas a ama não deixa encontrar-lho.
Sem responder á pergunta, pousa o tabuleiro na cama e dirige-se novamente á porta. Linda intimidava-a. Pela segunda vez em toda a sua vida sentia este medo.
Dee, nome da malvada ama, encontra na presença de Melinda, uma antiga sensação que lhe é familiar.







Gray dormiu escondido numa pequena casa de madeira que existe no jardim da casa de Felon. Tem o corpo dorido da posição em que dormiu., da tensão a que submeteu no dia anterior. Não sabe o que fazer, como fazer…o dia já tinha acordado naquela casa. Prepara-se para sair da propriedade, quando é surpreendido por um dos guarda-costas do dono da casa. Acompanha-o aos empurrões até ao escritório do conde, onde este já o espera.
Entra porta dentro empurrado. Felon Acaba de se sentar á secretária, cruzar a perna, balouça-se nela, entrelaça os dedos no joelho e sorri maliciosamente.
-Posso saber o que pretendes ainda por estes lados?
Pergunta Felon a Gray, sem deixar de se balouçar.
- Mantém uma mulher presa nesta casa e pretendo leva-la daqui.
É nessa altura que o conde indignado com ousadia do rapaz, se levanta da cadeira num impulso e lhe dá uma valente bofetada com as costas da mão soltando-lhe o sangue do lábio inferior.
- Como te atreves a dar opiniões sobre o que se passa em minha casa? Sobre o que faço ou deixo de fazer? Agora ponham-no daqui para fora, antes que tenha de chatear-me a sério.
Faz um gesto desprezador com a mão, no sentido da porta, a fim de o levarem rapidamente e lhe darem um trato.
Gray limpa a boca com a manga da camisa. Faz força com os seus músculos para se conseguir libertar das mãos daqueles gorilas.
- Se lhe tocas com um dedo mato-te. Se lhe fizeres mal, juro aqui mesmo que passarei o resto da minha vida a fazer-te pagar por isso.
O gorila agarra-o pelos cabelos puxando-lhos com força para trás. Felon dá ordem de o largar.
- Mas o que tens tu a ver com ela? Conhece-la donde? Posso saber? Aqui a única pessoa que manda alguma coisa sobre ela sou eu. Ela é minha, a vida dela pertence-me.
- Não tens direito de falar dela como se fosse um dos teus pertences!
- Porque não. Ela é! O pai dela fez a escolha dele e deu-ma para ser minha, por isso faz o favor de me explicar qual é a relação que existe entre ti e a minha futura mulher?
Gray não queria acreditar no que ouvia. Está louco de raiva, mas sabe que tem de manter a calma por ela. Tem a confirmação de que ela não está ali por opção. Sabe que assuntos familiares a obrigaram a aceitar este destino. Tinha de se manter calmo e agir de maneira astuta apesar de por dentro, o seu sangue atingir elevadas temperaturas ao ponto de entrar em ebulição e a sua cabeça estar prestes a explodir.
- Nenhuma.
Responde calmamente.
- Simplesmente vi ontem uma mulher entrar aqui agarrada pelo braço e nenhuma mulher se trata assim, decidi procurá-la e perguntar-lhe se estava aqui de livre vontade ou se desejava que a levasse daqui.
Inventa para ganhar tempo de raciocínio.
- Levem-no daqui e façam com que não tenha vontade de voltar.
Agarram-no pelos braços, apertando-o, transportam-no até ao pátio traseiro e dão-lhe uma sova até o deixar imóvel.







O pátio traseiro é o que alegra a vista dos quartos. Linda sentada na cama, não toca na comida. Ouve ruído lá fora, levanta-se e vai á janela. Depara-se com uma cena grotesca.
Gray é espancado pelos homens de Felon, já não tem forças, enrola-se nele, não grita, submete-se a levar.
Linda abre a janela e grita por entre as grades.
- Parem…, parem, por favor parem.
As lágrimas escorrem-lhe desenfreadamente rosto abaixo. A brutalidade da cena que ela acabou de ver, como se estivessem aos pontapés a um grande saco de areia. Chora em pranto. Corre para a porta, tenta abri-la, mas está fechada, pega na maçaneta e agita-a com a esperança de que ela se abra, mas isso é improvável. Precisa salvá-lo. O desespero apodera-se dela e cai de joelhos junto á porta, lavada em lágrimas, sem forças para se levantar, mas sem hesitar levanta-se e corre novamente para a janela.
- Parem…! Já vos disse que parassem com isso.
Grita com toda a força que tem, despertando a curiosidade de todos os que se encontram naquela casa.
- Sabem que eu sou? Não preciso dizer nem mais uma vez. Quero que parem com essa atrocidade no jardim da minha casa. O meu futuro marido não vai gostar que eu acorde com uma cena bizarra destas, mesmo debaixo do meu quarto.
As lágrimas continuam a escorrer-lhe cara abaixo. Ao longe não se vê. Só pensa em dar a volta á situação. Tirá-lo daquele sofrimento e salvá-lo. Olha para ele dobrado no chão, de olhos fechados. Sem força. Nele via, em breves instantes, o homem a quem se entregara dois dias antes, forte, meigo, o seu amor. Tem de conseguir, nem que seja com as únicas armas que tem. As mesmas de Felon. Ela.







Cãndia acorda com o barulho e dirige-se á janela. Abre-a e espreita através da mesma debruçando-se até conseguir ver as duas cenas. No chão, Gray estendido, enrolado. Na janela, duas ao lado, por cima da sua, Linda de mãos nas grades, linda até ao levantar, de ar altivo, imponente, sem medo. Intimidava-a e isso provocou-lhe um sentimento nunca por ela sentido. Recolhe-se, mete as mãos ao peito e por momentos sente que não tem aquele poder que pensava ter. O poder do amor.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CAP 11

Já quase sem fôlego, Gray corre para a casa grande. Corre com toda a sua força, até as veias do seu pescoço ficarem inchadas e a sua face ficar musculada da tensão. Tropeça quase caindo, cai, levanta-se e corre…corre. Precisa ajudá-la. O que quer que tenha acontecido, para Linda ir com ele, não é certamente algo de bom. Tem de a salvar.







A ama de Cândia procura-a no seu quarto e envenena-lhe a mente contra a nova hóspede.
- Menina! É a rapariga das maçãs! A nova namorada do seu pai!
- O quê?
Emite um guincho estridente, fica vermelha, agarra a ama pelos ombros firmemente e dá-lhe uma sacudidela.
- O que me dizes?
- É verdade menina. Aquela do dia da festa, com quem o menino Gray estava de conversa. É a rapariga com quem o seu pai se vai casar.
Cândia fica estática de mãos na cintura, com cara de quem manipula a vida de todos e de que não é agora que isso vai mudar. Já tem um plano!






A hora vai tardia. Melinda recosta-se vestida sobre a cama. Está cansada. Cansada de chorar, cansada de toda esta turbulenta mudança na sua vida. Agora já não chora, está exausta. Somente adormece, sem pensamentos, enrolada a si própria, protegendo contra o peito a carteira da sua mãe.







Gray, escondido entre o portão e a ombreira do mesmo, aguarda movimento, está tudo calmo. Abre-o, entra calmamente, sem deixar de olhar em seu redor. Aquela casa era como a sua segunda casa, desde pequeno que a frequentava. Nela viveu histórias de infância. Conhecia todos os seus ritmos, seus cantos e recantos.
Pretende entrar e procurá-la como um ladrão. Procura a porta traseira Está fechada. Procura sorrateiramente uma janela aberta. Fechadas! Sente-se impotente. Não vai bater á porta, é tarde. Ouve ruído no pátio e esconde-se.
Os homens de Felon fazer a vigia á casa. Tem de sair dali.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CAP 10

Linda abandona agora a casa que a viu nascer.
Dela só leva a esperança, de que salvará a única herança de família que a ligava á sua mãe. Na mão, apenas uma bolsa de veludo cinza, que Elsa muito estimava, no coração transporta a sorte de ainda ter sido amada como sempre sonhara. Pensa em Gray. Onde estaria ele, se teria sido tão importante para ele como fora para ela?
Sentada dentro do carro, escoltada por homens que não eram da sua confiança, ao lado de um outro sem escrúpulos, que desejava o seu corpo, mas que nunca o teria como seu, pois ele já pertencia a outro, Linda observa a casa já de fugida, o jardim da mesma, a entrada do bosque. Recorda a sua mãe e as palavras dela surgem no seu pensamento de uma forma real.
- Meu amor, se um dia eu não estiver a teu lado, cuida da nossa casa. O bosque, o lago e todos os seres que nele habitam, sempre te vão proteger, eu sou como eles, são a nossa família.
Enquanto criança Melinda nunca encarou estas palavras, como se pudessem ser válidas algum dia, soavam-lhe a conto para dormir. Agora sabia que era verdade. Aquele bosque protegia-a e no lago sentia a presença de Elsa, com quem aprendera a adorá-lo.
A noite traz o murmúrio das aves sábias até ela, conferenciam, algumas corujas emitem sons que podem até parecer musicais aos ouvidos humanos.
- O que me dizes?
Pergunta ela em pensamento, em resposta á mensagem que lhe trazem.
- Onde está?
Procura com a cabeça, aflitivamente de um lado para o outro. Volta-se para trás, ajoelhando-se no banco, deixando Felon irritado. Através do vidro traseiro da viatura, avista junto ao jardim de sua casa um vulto, que ansiosamente identificou.
- Volta-te já para a frente.
Diz-lhe Felon em tom de pessoa não amada. Linda, volta-se suavemente, deixando para trás a certeza de que ele também a amava e a incerteza de que mais alguma vez se iriam poder tocar. Provavelmente aqui seria o final do que podia ser uma linda história de amor.







Cândia sabe que alguma coisa se vai passar. O conde tinha dado ordem aos empregados que arrumassem o quarto que outrora fora o cativeiro de sua mãe. Ela sabia ao que seu pai a sujeitara antes de ela nascer, até ao seu fim. Sempre lhe argumentaram o espírito indomável que tinha e que o seu pai, algumas vezes tinha de a pôr em reclusão para pensar nos seus actos, ela sempre acreditara na historieta.
Está agitada com a surpresa, mas não deixa que as decisões do seu pai interfiram na sua vida, ela tem agora outras prioridades no seu pensamento. Os seus tenebrosos preparados aguardam em repouso o dia em que se libertarão e cumprirão as promessas feitas ao seu criador.







O carro estaciona frente á casa grande. Linda que se mantém absorta em pensamentos, encara agora o real facto de já ter estado ali. O seu rosto, normalmente feliz, transmite uma assombração e tristeza ao mesmo tempo.
- Para onde me traz?
Pergunta ela com ar de quem foi levada para ser aprisionada.
- Esta é a partir de hoje a casa onde vais viver.
Responde-lhe Felon com um sorriso malicioso, provocando-a, mas ela não deixa transparecer a raiva que sente e ignora-o.
Fecha os olhos suavemente, inspira prolongadamente, prepara-se para sair do carro e encarar a nova vida que o destino lhe reservara.







A velha ama tenta ajudá-la com os seus sacos, o que ela recusa agarrando-os bem contra si. Ninguém naquela casa tocaria nas suas coisas. Nunca! A maior parte dos seus pertences, são recordações da sua mãe, ninguém ousaria mexer-lhes, pelo menos enquanto ela pudesse evitar.
A ama, sussurra baixinho, enquanto a acompanha ao seu quarto, subindo vários lances de escadas até lá chegarem. Deixa-a entrar no compartimento que a ela está destinado, lentamente fecha a porta, saindo sem dizer palavra e tranca-a, fazendo-a sair disparada até á maçaneta da porta ao ouvir a chave rodar na fechadura, girando-a várias vezes com as duas mãos, sem no entanto, obter resultado. Está, realmente, prisioneira.

sábado, 11 de setembro de 2010

CAP 9

Em casa dos Wolf os hábitos familiares sempre foram prioritários. Mas neste momento a família estava voltada do avesso e Anthony recusa-se a partilhar as refeições com o filho, deixando Gray e a mãe sozinhos.

Ele não abre a boca durante o jantar, a sua mãe mal toca na comida deixando um clima de tristeza na casa.

- Mal comeste mãe, não te vi levar comida á boca durante o jantar.

- Não sei como podes saber isso, também não te vi olhares-me durante a refeição, estiveste com os olhos cravados no além, olhando a janela, o tempo todo.

- Há coisas que eu não entendo. O que tem o conde a ver com os camponeses dos arredores do bosque?

- Porque perguntas isso? Foste á casa grande? Falaste com ele?

- Expulsou-me. Fui atrás dele e ele e os seus homens estiveram toda a tarde na casa de um agricultor local perto do bosque e eu achei isso muito estranho.

Diz ele arranjando uma forma subtil de justificar a sua ida até á casa de Linda e coincidindo com a ida do conde até á mesma.

- Não sei qual será a ligação. Apesar de…, agora me lembro, do teu pai comentar comigo que Felon pretendia fazer um hotel por aquelas bandas. Talvez seja isso.

- Um hotel no bosque? Mas isso é um crime!

- Mas quando é que tu achaste que ele não era um criminoso? Ele é isso e muitas coisas, como perigoso. O poder fez dele um homem ruim.

Este discurso da mãe deixa Gray ainda mais preocupado com a situação de Linda.

- Mãe…lembras-te de te ter dito hoje que tinha conhecido uma rapariga pela qual me apaixonei?

Apoia os cotovelos sobre a mesa e segura a cabeça baixa entre as mãos.

- Chama-se Linda.

Levanta a cabeça e endireita-se um pouco na cadeira e olha descontraidamente para um lado e para o outro confirmando a sua privacidade, mostrando um pouco de descontracção para falar com ela.

- Ela mora nessa casa, mas eu não sei nada sobre ela, receio que corra perigo.

- Como não sabes nada dela? O que queres dizer com isso? Está desaparecida ou…

- As duas coisas mãe, mas o amor que sinto por ela faz-me acreditar que é uma boa pessoa, isso não duvido. Mãe, tu não imaginas a atracção que nos junta, não é uma coisa mundana, pertence a outro nível.

- Filho…tem cuidado contigo. O amor leva-nos a cometer erros, dos quais, mais tarde nos vimos a arrepender.

- Não mãe com a Linda é diferente, eu sinto-o de uma forma surreal. Não poderia enganar-me dessa forma. Eu sinto que ela corre perigo e não sei como ajudá-la. Não posso aparecer á sua casa, tem lá os homens daquele criminoso, não tenho maneira de falar com ela.

Levanta-se da cadeira ansioso agarrando a camisola e torcendo-a na zona do peito e começa a andar pela sala de jantar. Inspira o ar que consegue a solta-o para descarregar a ansiedade de uma só vez.

Volta as costas repentina á mãe e prepara-se para sair.

- Onde vais? Não acabas a de comer?

Pergunta Rosa ao filho em tom preocupado, afastando-se rapidamente da mesa e pondo-se de pé.

- Tenho de saber dela. Vou ver se consigo descobrir alguma coisa ou então se consigo falar com ela.

- Por favor não vás, tem cuidado. Não quero que te aconteça nada. Dava a minha vida por ti e morria se te acontecesse alguma coisa.

- Não te preocupes mãe. Não vou deixar que me façam mal, fica descansada e não te rales mais…e come.

Remata, segurando-a na nuca docemente e beijando-lhe a testa. Sai, deixando para trás a flor de cheiro suave, que o adora e protege com orações.















Volta á casa de Linda. Pelo caminho, o bosque fala com ele e aconselha-o. Tem de ser astuto, para conseguir chegar até ela sem ser descoberto, não sabe o que poderá encontrar pelo caminho, mas tem o pressentimento de que não é nada de bom, a angústia corrói-lhe o peito, tem o seu corpo sob tensão. Como era possível a sua vida ter dado uma volta tão grande de um dia para o outro?

O seu amor por Linda é tão puro, porque não podia estar com ela?

Aproxima-se da casa. Espreita por entre as sebes…habitua a vista á nova luz e começa a aperceber-se dos movimentos.

O carro de Felon está estacionado em frente á casa, a luz do candeeiro contorna as silhuetas.

O vulto de Linda está estático em frente da casa, olhando a sua frontaria. O seu corpo vestido de viagem, segura com as duas mãos pendentes e bem serradas uma pequena mala.

- Onde irá ela com o conde?

O cérebro de Gray congela, não consegue pensar, olha a situação de longe, mas não sabe como reagir.

Se ela está a ir com ele a algum lado, não posso evitá-lo, não tenho o direito de me meter na vida dela, ela parece tranquila, não me parece que esteja a ser obrigada, mas parece que se está a despedir. Não a vou ver mais? Onde vais com o conde.

Pergunta-lhe em pensamento, como se ela o conseguisse ouvir e lhe fosse dar resposta.

















Linda observa todos os pormenores da fachada, para quando fechar os olhos se tele-transportar até ela, conseguindo quase tocar-lhe. Olha os vasos, que rega todos os dias com tanto bem-querer, com as quais mantém conversas sobre beleza, que tanto a inspiram. Sente a presença do amor, olha calmamente na direcção do bosque e sente a presença de Gray, sem nada poder fazer, resignando-se.

Felon dá ordem de a “ ajudar” a entrar no carro, dirigindo-se-lhe um dos seus gorilas pegando-a no braço, ao qual Linda reage com um safanão, agitando o tronco a fim de soltar-se.

- Ela não quer ir, agora sei. Ela não quer ir. Nisto tenta passar a barreira de sebes que circunda a casa a fim de impedir que a levassem, mas não dá tempo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O sol encontra-se a pique no bosque, escondendo-se á medida que o dia passa.


CAP 8

Enquanto Gray se dirige a passos largos para a casa grande, na mesma Cândia imagina diferentes maneiras para se vingar dele.
Em cima da sua secretária pesquisa orações e mesinhas que não só façam Gray sofrer, como também a Linda. Ela nunca hesitou em concluir que ele não aparecera naquele dia por sua culpa, que tinha ido atrás dela para o bosque.
-Como era bela. Porque tinha de aparecer na sua vida?
Pensa.
Tinha tudo corrido tão bem, até aquela camponesa aparecer. Odiava-a, tinha de a tirar do seu caminho.
Albergam em casa desde que a sua mãe morrera uma anciã que é conhecida nas redondezas pelos seus preparados mágicos e desde que toma conta de Cândia que a brincadeira predilecta da menina era ajudar no preparo dos mesmos, e assim foi aprendendo. Tal qual bruxa má aprendeu e desenvolve, agora conjuros maléficos que lhe auferem poder sobre seus adversários. A menina mimada não aceita a derrota, habituada a ter tudo o que quer, este é mais um dos seus caprichos orgulhosos.
A sua mãe morrera durante o parto, Cândia, nome que o pai e a maléfica ama lhe deram, é a menina nas mãos das bruxas.
O ambiente do quarto é carregado e mina tudo á sua volta. O quarto grande, espaçoso, mas no entanto cheio, não tem plantas, nem decoração de quarto, mas sim um amontoado de livros, vidros, em forma de taças, tubos, frascos com essências, folhas secas, outras ainda verdes, um cheiro de um putrefacto e adocicado forte, colmata a ornamentação.
Manipula a sua colecção, mistura-os, agita-os, até a sua amálgama ser um concentrado fatal. Junta-lhes palavras rezadas e cânticos desafinados em sussurro, até as forças do mal virem em seu chamado.
Nunca amou. Alimentou sempre o seu ego de mentiras e fantasias roubadas e guarda-os em falsas expectativas de menina mimada.







Gray depara-se com o conde mesmo á entrada da casa. Faz um gesto com a cabeça afim de os seus homens o impeçam de entrar.
- Precisamos falar.
Diz Gray, dirigindo-se ao conde.
- Não falo com gentalha falida.
Responde-lhe com ar de desprezo e indiferença.
- Mas parece que até ontem falava e até me queria para genro.
- Isso sempre foi um capricho de Cândia, limitei-me a deixar andar para lhe fazer a vontade. Mas melhor assim, ia ser uma vergonha para a família e ainda me teria de ver obrigado a ajudar a tua.
Entra no carro e fecha a porta, três homens acompanham-no.
Gray sem mais ter ali a resolver, dá meia volta e afasta-se da casa.
Cândia observa ao longe, da janela do seu quarto a quezília. Tem desgosto do desamor dele. Ele é tão lindo, sonhou tantas vezes com ele a amá-la, a desejá-la, mas isso nunca aconteceu, ele sempre a viu como uma … prima. Agora já nada disso importa e o seu objectivo é a vingança, que a cega para tudo mais.






É perto do meio-dia e nem querendo ou sabendo se seria o melhor a fazer, Gray decide procurar Linda e atravessa o bosque. O sol que espreita por entre as altas árvores queima-lhe a pele, está a pique e o calor aperta, fazendo com que pare junto ao lago para se refrescar.
Aquele sitio ainda guarda memórias da noite anterior, ele procura-a nas folhas secas, que horas atrás taparam e aconchegaram seu corpo. Baixa-se e pega numa mão cheia e leva-as ao nariz fechando os olhos e inalando o odor da sua fêmea. Procura-a, olhando em seu redor, mas não está, solta as folhas e dirige-se ao caminho que leva até sua casa, mas sempre com cautela. Ao aproximar-se ouve vozes e mantém-se escondido observando como se de um detective se tratasse.
A porta da sua casa está vigiada, os homens que vira antes e lhe barraram a entrada na casa grande encontram-se agora abalroando a casa da mulher que pensa ser sua e de quem nada sabe além do que os seus corpos disseram. Teme a verdade. Espreita com atenção. Tenta aproximar-se com cuidado para não ser visto. Contorna a casa na esperança de a ver, anseia por estar com ela, mas não sabe como, não sabe nada, sente-se como uma criança que brinca às escondidas mas tem medo de ser apanhado. Da sua amada não há sinal. O que terá ela a ver com o conde? Está confuso e perturbado.






A casa por dentro está agitada. Melinda não quer ir contra seu pai, mas ele não tem o direito de escolher o seu destino, e nega-se a casar com o conde encarando-o, o que o deixa ainda mais ansioso por tê-la. Não tem outra solução ou seu pai ficará sem nada. Felon olha-a com um sorriso enojador e ela fita-o sem soltar alguma expressão no rosto.
- O meu corpo nunca será seu.
- Tu já és minha. O teu pai vendeu-te, não te deste conta ainda.
Diz Felon apertando o pulso de Melinda e levando a sua mão junto da sua peçonhenta boca.
Austero sai porta fora incomodado. Nunca foi intenção dele vender a filha, apesar de ser essa a realidade, o seu único intuito era deixá-la com uma vida estável e em segurança.
Gary continua à coca, para entender o que se passa e vê Austero sair de casa cabisbaixo.
- Quem será? Oh meu Deus, o que se passará ali? O que é que o conde terá a ver com Linda?
Diz em tom de murmúrio.
De todos os problemas que a sua vida tinha, e que tinham começado todos no mesmo dia, aquele era sem dúvida o mais importante. Será mesmo esta a sua casa? Realmente não a vira entrar. Ter-lhe-ia acontecido alguma coisa? Poderia ele ajudar? Ali estava ele escondido, sem nada fazer, caso ela precisasse dele. Mas como iria ele descobrir?
Cinge-se a ficar sentado junto ao lago tentando imaginar alguma maneira de chegar até ela. Mais tarde dirige-se para casa.







É quase hora de jantar, na casa de Gray, Rosa, espera-o sem dele nada saber, está ansiosa e preocupada, ele é seu único filho e sempre para ele vivera. O ambiente da casa está tenso, Anthony inventa uma reunião para dela se ausentar, a vergonha dele leva-o a refugiar-se em outros lugares.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

CAP 7

Sir Anthony, pai de Gray, manda-o chamar à sua biblioteca.

Gray dirige-se á mesma com os olhos brilhantes, a sua felicidade contagia todos com quem se cruza. Sneaker, partilha a mesma com o dono circundando-o com a língua de fora e abanando freneticamente a cauda.

Gray baixa-se para o afagar por detrás das longas e macias orelhas.

- Sneaker, lembras-te da rapariga do lago?

Abana-se e ladra, pedindo ansiosamente que desenvolva o tema.

- Amo-a. Recordas-te que te repeti várias vezes até casa naquele dia que te fui buscar ao pé da casa dela como ela é linda?

- E não é que é mesmo!

- Linda. Chama-se Linda e eu não consigo pensar em mais ninguém…em mais nada. Acreditas?

Sneaker partilha a alegria do dono, volta-se ansiosamente na direcção do bosque, começa a correr elegantemente voltando-se para trás chamando-o com um latido.

- Sneakers, vem cá amigo. Agora não dá, mais logo. Tenho de ir falar com o Sr. Meu Paizinho, imagino que vou levar um descasque.

Diz em ar de um gozo cínico.





Com a sua berçada educação, bate com os nós dos dedos á porta e pede para entrar.

A biblioteca da família Wolf é enorme, toda ela revestida a veludo vermelho sangue acolchoado e os móveis bastante trabalhados de madeira quase negra. De uma inexplicável grandeza snob. Ao entrar nela é como se se entrasse num espaço eclesiástico, a fim de confessar os “ seus” pecados. Tem tantos livros, mas a maior parte é espólio familiar, a imagem é o que mais conta e uma boa biblioteca tem de ter muitos livros, Assim pensa a linhagem Wolf.

Gray cumprimenta o pai com um beijo na face e este mantêm-se impávido.

- Imaginas o que a tua atitude causou ontem, não imaginas?

- Nada disso para mim faz sentido, não sabes?

Responde-lhe sem hesitar.

Mostrando indiferença ao sermão que o seu pai lhe dá, avista o bosque da janela e procura nele a imagem do seu amor, vagueando-lhe a mente por entre desejos, anseios e a tarde quando nele cai, que se cobre da uma magia e encantos, cheiros doces e frescos e o coração acelera-se-lhe.

Sir Anthony salta da cadeira dirige-se-lhe, encontrando-se ele noutro mundo, enrola a sua mão grande e bem tratada ao cabelo do filho fazendo-o olhá-lo na cara com a cabeça tombada para trás e grita-lhe ao ouvido.

- Sabes o que a tua linda brincadeira causou ontem á nossa família? Sabes? Tens noção de que nos prejudicas-te a todos? A tua mãe está fechada no quarto, não quer ver ninguém de tanta vergonha que sente…Porta-te como um homem e vai tratar de resolver esta situação. Ouviste?

Berra-lhe ao ouvido, deixando-o quase surdo do mesmo.

Vai-lhe soltando o cabelo lentamente deixando-o escorregar por entre os dedos e termina com um rematante safanão acompanhado por um empurrão na face.

Não sabia o que fazer. O que teria acontecido a noite passada em casa de Cândia? Porque estaria a sua mãe tão perturbada se sabia de antemão que ele não amava a mulher que lhe destinaram e que nunca tivera intenções de casar com ela, sua mãe sabia-o e sempre estivera de seu lado contra o pai. Porquê?

Rapidamente dirige-se ao quarto onde sua mãe está trancada por dentro.

- Mãe, abre. Abre por favor, sou eu Gray.

Ouve-se a chave a rodar dentro da fechadura e a porta abre-se.

- Então mãe, o que se passa? Não posso crer que tenham feito um bicho-de-sete-cabeças por não ter ido jantar? Já deviam saber que não faria questão de assumir nada. O pai passou-se completamente e quase me bateu na biblioteca. Sinceramente, não pensaram que eu assumiria algo ontem á noite, até foi uma sorte não ter ido, a vergonha seria maior ao eu negar este compromisso publicamente.

- Filho…o Conde Felon ontem chegou atrasado e muito amargo ao jantar. Parece que também ele se vai casar e ia aproveitar a situação e anunciá-lo, mas a sua noiva não pode comparecer, disse que se indispôs á ultima hora. Junto á amargura que já o define junta-se-lhe a ira da tampa que levou da noiva e por fim o tu não apareceres e a birra que Cândia fez por esse motivo, fê-lo começar a discutir com toda a gente e teu pai não foi poupado, difamando-o publicamente, contando a todos os presentes as dividas e penhoras que teu pai tem, rematando que tu também não eras homem para casar com a filha dele, que ela merece alguém á altura, o teu pai não aguentou e agrediu-o, tende-nos posto fora da casa grande. Gray…estavam lá repórteres e fotógrafos a cobrir o evento. Vai ser um escândalo! Vamos aparecer em todas as revistas e jornais. Que vergonha.

Baixa a cabeça e esconde-a entre as mãos que suportam as lágrimas.

- Oh mãe, desculpa, mas eu não me preocupo com essas coisas como vocês. A mim dá-me igual as revistas, nem sabia, nem imaginava que Cândia quisesse publicitar a nossa vida a revistas, mas peço-te desculpa pela situação, não sei que te dizer…nunca pensei…vou lá agora resolver este problema. Não te preocupes, tudo se vai resolver. Logo hoje que estava tão alegre, não é justo… Mãe…estou a amar.

Ela levanta a cabeça, a cara inchada e os olhos derramados do choro deixam-se ver.

- Como assim?

- Estou apaixonado. Nunca amei assim. Hoje devia ser um dia de alegria nesta casa. Tanto tempo preocupados comigo, porque não me interessava por ninguém, porque não tinha namorada. Pois agora tenho. E é Linda!

A mãe pede-lhe a mão e puxa-o até si. Beija-o na face com carinho e abraça-o, dando-lhe aquele apoio de mãe, que muito ama o filho e só quer que seja feliz.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Na casa de Melinda, a luz distingue-se por detrás da porta. O seu pai espera-a.

CAP 6

A casa do agricultor é pequena, de pedra e um candeeiro ilumina-lhe a entrada. Apesar da luz do dia estar prestes a raiar, deixa antever que no seu interior alguém espera a sua chegada, mas não sabe de que forma e tem medo. Aguarda algum tempo no exterior da casa que o nascer do dia lhe auspicie algo. Circunda a casa, sem fazer barulho e consegue entrar em seu quarto pela janela, que se encontrava entreaberta. Entra na cama e tapa a cabeça, o medo invade-lhe a alma que sangra de amor no mais íntimo do seu ser.
A porta do seu quarto estivera sempre fechada, Linda nem se lembrou de tal, o seu pai acreditara que ela se encontrara indisposta ou que talvez desconfiara do triste destino que se-lhe auspiciara.
O pai já não se encontra em casa, é nessa altura que decide sair da sua redoma e encarar o dia…o que não será fácil.
Dirige-se á cozinha para comer algo e pega numa maçã, nunca uma falara para si. Ao olha-la, toda polida e brilhante, o seu reflexo aviva-lhe a apaixonante história que vivera o dia anterior e o seu coração dispara velozmente ao mesmo tempo que se prepara para sair porta fora com a ela na mão.
Á porta esperavam-na três homens de aspecto crespo que automaticamente se levantam no momento que a vêem e barram-lhe a saída.
- O que querem?
Pergunta linda escondendo-se rapidamente por detrás da porta.
- Quem são vocês? Volta a perguntar cravando as unhas na espessura da porta.
- A menina não pode sair de casa. Estas são as ordens que temos. Não podemos deixá-la sair. São as ordens do conde.
- Do conde? Pensa ela. E fecha a porta sem retornar palavra. Encosta-se á porta, como se a estivesse a barricar, fazendo força com as costas contra ela e os pés meio estendidos ajudam a fazer mais força, caso alguém tente entrar, e montes de ideias passam pela sua cabeça. A primeira coisa em que pensa é, que não conhecia nenhum conde e não fazia ideia de porque a obrigava a manter-se cativa em casa. A segunda foi quase seguida. Onde estaria o seu pai e o que teria ele a ver com a situação. Teria o conde algo a ver com Gary? Seria seu pai? Seria o Gary conde? Não podia ser e se sim, porque a manteria cativa em sua própria casa. O que teria acontecido? Tinha de descobrir. A última foi, como chegar o mais rápido á janela do seu quarto e fugir. Mas a janela também estava escoltada. Tentou espreitar por entre as cortinas de todos os compartimentos da casa, observando minuciosamente todos os pormenores do inimigo, pois, podia não saber o que se estava a passar, mas uma coisa era certa,…era um inimigo.
Avista seu pai, com ar cansado e arrastado aproximar-se da porta das traseiras, abre a janela e apronta-se a chamá-lo, sem saber muito bem se teria ele conhecimento, ou não da situação, mas ao mesmo tempo imaginando pela descontracção com que se aproximara dos homens, que seria algo de que ele teria conhecimento, e recolhe-se sustendo a respiração e esperando o pior.
Austero raspa as botas cheias de lama seca e poeira no tapete de corda que os pés da porta calçam, encostando o cotovelo na ombreira da mesma, limpa o suor da testa com as costas da outra mão e entra em casa.
- Onde andaste ontem? Pergunta Austero á filha com uma calma estranha.
- Senti-me doente e fiquei no quarto a tarde toda, acabando por adormecer noite dentro, este calor deixa-me bastante sonolenta.
- Bati-te á porta varias vezes, chamei-te alto e em bom-tom. Não ouvistes nada! Está bem.
Não se conforma, mas não tem provas. Levanta o sobrolho, torce a boca mordiscando o lábio inferior em tom de ironia e acena que sim com a cabeça.
- O que se passa aqui pai, quem são estes homens? Quem é o conde?
Pergunta aflitivamente.
- O teu futuro marido. Casas, mais ou menos daqui a um mês.
- Porquê pai, porquê? Pergunta Linda ao pai, parecendo uma menina pequena assustada que não entende as injustiças do pai.
- Não estou a entender. Não conheço nenhum conde.
Por momentos ainda lhe passou pela ideia que pudesse Gray ser conde, que o pai tivesse descoberto o que se passara entre eles na noite anterior e que o pai o obrigara a assumir e sente-se estremecer. Afinal ela vira-o na casa grande, poderia ser um conde, ele conhecia Cândia. Quem seria o homem a quem ela se entregara? Nada sabia sobre ele. O que tinha ela feito?
- Ele virá cá hoje, não tarda em saberes tudo. Só quero o melhor para ti. Esta pode ser uma boa oportunidade de ficares bem quando eu um dia não estiver, vais ter um bom futuro.
- Pai!
- Toma um bom banho e arranja-te. Quero que te componhas.
Volta-lhe as costas austeramente e deixa-a estática, de olhos bem abertos, em pânico, sem nenhuma explicação.








Melinda sente-se só. Cruza os braços no pescoço e escorrega as costas nuas pelos azulejos da banheira até ficar sentada abraçando-se, enquanto a água lhe refresca os pensamentos e ensaia lavar-lhe a alma. Pergunta-se e pergunta-se o porquê. Teme o pai. Não sabe quem é Gary. Mas ele não podia ser, tinham estado sós no bosque, não havia mais ninguém, o bosque ter-lhe-ia dito e o lago também.







Já de banho tomado e vestida, Melinda aguarda no seu quarto que o pai a chame. Sentada na borda da cama, com ar de quem perdeu a felicidade e não sabe como lidar com a situação. Levanta-se e deambula pelo quarto sem noção do que faz, dirige-se á janela, espreita através dos seus cortinados e marca o tempo com o palpitar do coração.
Apercebe-se então da proximidade de alguém e pede a Deus que seja Gray, mas não é.
O homem acompanhado pelos outros que antes a impediram de sair, não lhe é completamente estranho mas não se consegue recordar de onde. Remexe as suas memórias, na tentativa de receber uma resposta que lhe acalme o espírito. A imagem daquele homem está cada vez mais clara, só tem de se concentrar.

sábado, 4 de setembro de 2010

CAP 5

O final de tarde quente de inicio de verão já refrescara e o sol que há momentos iluminara a sua amada já se pusera dando origem a um mágico lusco-fusco, deixando aparecer do lado oposto uma linda lua redonda e luminosa num céu ainda claro.
É praticamente noite.





Em casa de Melinda, seu pai espera-a.
Ela não aparece. Uma visita inesperada aguarda juntamente para acertar alguns pormenores do enlace.
Linda desconhece esta situação, ela viaja por outros orbes, nunca imaginando o fado que o pai lhe reservara.
Austero circula em casa de um lado para o outro ansioso, enquanto o conde com semblante rude, sentado na poltrona do dono da casa, de pernas cruzadas e dedos entrelaçados segura o joelho e marca os segundos com o bater dos polegares no mesmo.
Linda não aparece, parece que prevê o que a espera.






Desde que saiu a correr da casa grande que não caiu em si, atravessa agora o bosque que o lusco-fusco transforma num misto de tenebroso em mágico lentamente, em sua perseguição está Gary, que tudo abandonou para a seguir e de uma vez por todas dizer que a ama.
A lua que começara a aparecer surge e ilumina o lago que em cristal se torna, o sopro quente agita as folhas e um cheiro doce até ele chega, abrindo-lhe o caminho até ela que junto ao lago o espera e pede a todos os elementos que a rodeiam que parem o tempo e a deixem viver eternamente esta sensação de euforia que ruborizam a sua face. Olham-se! Já nada os separa. Tocam-se. Os seus corpos ficam de repente quentes e húmidos, fazendo-os perder a noção da realidade. Não pertencem á mesma realidade de ninguém, só á sua própria. As suas bocas entram em fusão e durante instantes a alta temperatura que os envolve quase os leva a tornarem-se num só.
Entram lentamente dentro de água, como se os elementos também se fundissem. O brilho da lua envolve-os numa espécie de capa que os torna invisíveis, o que os deixa amarem-se sem serem vistos…sem nenhum pudor.







Ela abraça-o com as pernas e os braços enquanto ele lhe cheira a pele e se deleita deitando a cabeça em seu pescoço, parecendo dois cisnes aninhados…e o tempo pára até já ser madrugada. O sol não vai tardar em nascer, acordam tapados com a colcha de retalhos que o manto de folhas secas que cobre o chão teceu para eles.
- Meu Deus tenho de ir, já é quase dia, o meu pai vai-me matar!
- Fica! Nunca mais me deixes, morrerei se o fizeres.
- Nunca passei uma noite fora de casa, nunca me entreguei a ninguém… o meu pai vai matar-me, tenho de ir.
Afaga-lhe a cara, beija-lhe lentamente os olhos, o nariz, a face e a boca, levanta-se, pega no resto da roupa que não vestira ainda, fazendo-o então.
- Amo-te Gray.
Anuncia-lhe ela ao ouvido, parecendo temer que alguém ouvisse e desata a correr em direcção a casa.






É praticamente dia e o bosque enche a alma dos animais que nele habitam. Comunicam entre si e entram em junção plena com o universo. Elevam a magia que nele existe. Os pássaros esvoaçam em grande magnitude, alimentam-se, cumprimentam-se, lavam-se, este também é o seu mundo, guiam Linda no seu percurso de volta a casa, enquanto no chão, outros animais também o fazem protegendo-a dos mistérios que aí se escondem.
O lago acorda também, a luz penetra nele. As relas cantam para Gray, contam-lhe histórias em musica. Ele deixa-se estar agachado junto da baía de juncos que o lago detém á sua beira. Parece um príncipe das arábias, de cabelos soltos. Pele morena do sol, barba por fazer, de camisa aberta emanando perfume de amor, faz um caço da sua mão e enche-o de água baça e leva-o á cara lavando-se. Deixa escorregar a água por dentro do decote e inspira profundamente. Procura o cheiro dela e grita bem alto e de olhos bem cerrados.
- Linda… amo-te!







Os pássaros que escoltam Linda a casa, ouvem o ecoar do grito de Gray e entregam-lho. Ela semi-serra os olhos, volta a cabeça para trás, sorri como uma menina sorri depois da sua primeira, temida e ansiada primeira noite de amor e volta a caminhar.






Ela dirige-se agora para a toca, pensa que ela a acolherá, e às suas paredes contará a mais alucinante história de princesas que qualquer menina, mesmo que não o confesse, quer para si. Ao contrário, Melinda caminha em direcção á mais malfadada história de amor.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

CAP 4

Gray adora montar a cavalo, em cima do seu corcel negro parece um Adónis.
De família Inglesa, bastante tradicional, Gray Wolf, seu nome, quase antes de nascer já estava prometido a Cândia, de uma família muito importante. As suas famílias sempre deram muita importância aos cruzamentos de sangue e sobretudo aos apelidos. Gray nunca concordou com essa situação e vai deixando andar, sem dar a mínima importância, nem relevância a esse tema.
Ao contrário, a sua pseudó noiva, não se conforma com a rejeição, sufoca-lhe a existência seguindo-o a todo o lado e manipulando-lhe a mente.
Nesta tarde haverá uma festa na casa grande, propriedade do pai de Cândia, esta festa destina-se a formalizar publicamente o noivado, que até ali nunca acontecera porque Gray recusa-se a aceitar a ideia de casar com alguém que não ama. Enquanto isso Cândia recusa-se a aceitar a ideia de não casar com ele e não entende como é possível que Gray não a queira para mulher.
Farto de discussões familiares provocadas por imposições da futura noiva e querendo fugir a todo aquele circo, no qual, não quer participar, monta o seu corcel negro e pega no seu cão Sneaker e vai passear para o bosque.
Sneaker não tarda em desaparecer de novo e isso traz-lhe a lembrança daquela noite.
Trota suavemente e perto do lago prossegue a pé para se poder esconder entre a vegetação.




Linda movimenta o corpo lentamente dentro de agua parando o tempo, o som das aves e outros seres nativos do bosque soam a música e ela completa o quadro com uma melodia cantarolada, elevando-o ao mais alto ponto de êxtase. Os seus seios destacam-se saindo de dentro de água, seus cabelos longos e negros conferem-lhes aquele misticismo de ninfa, não os revelando na totalidade. Gray observa de longe e sente-lhe o cheiro doce do mel.
Não pode ser real. É demasiado perfeito.
Sneaker aproxima-se dela, sem no entanto fazer ruído e deita-se junto ao lago como se a estivesse a guardar.
Endireita-se e começa a recolher as maças espalhadas pela água e a juntá-las dentro da cesta, os seus cabelos molhados tapam-lhe os seios, Ao sair do lago, a sua nudez confere-lhe um toque de quadro pintado com a alma, puxa os cabelos para junto da cara e aperta-os, libertando-os do líquido que trouxeram consigo do lago, de cócoras limpa-se com o vestido e sacode-o para o secar rapidamente. Os raios de sol penetram por entre as árvores e tocam-lhe a pele aquecendo-a.


Gray segue-a…mas Linda serpenteia-se por entre a vegetação e perde-a de vista.
Ao chegar a casa, seu pai,que dele nada sabia, relembra-o de suas obrigações para com a tradição familiar e o quanto irá prejudicá-la faltando ao compromisso com Cândia. Sem outra saída, vê-se obrigado a ir contra vontade. Mas ao chegar á casa grande sente um cheiro que ultimamente lhe é inconfundível, de acentuada doçura com o calor, o que o deixa bastante abalado. Sentada junto á porta das traseiras, onde o sol do final do dia ainda batia e que auferia á sua beleza uma deleitosa graciosidade, se encontrava ela, com a cesta das maçãs, que momentos atrás dançaram com ela dentro do lago, que tocaram seu corpo e perfumaram a sua pele. Ela, numa postura tensa, sentada de pés trocados e joelhos bem juntos a suportar a cesta, que segurava com as duas mãos bem fechadas, como quem tem medo que voltem a cair, as maças muito lustrosas e vermelhas reflectiam o brilho do sol tornando-as muito apetecíveis. Ele, parado e vidrado observa-a, como se mais nada houvesse além desta imagem e passa-lhe pelo sentido, que não podiam ser coincidências os seus encontros, estavam destinados ao amor. Nem sequer sabe o seu nome e ama-a perdidamente e sem pensar dirige-se-lhe.
- Olá!
Linda volta a face iluminada na sua direcção e tapa o sol com a mão, como se de uma continência se tratasse. E a imagem de Gray torna-se mais nítida para ela á medida que os seus olhos se vão habituando á contraluz, mas a sua imagem estava guardada e não era preciso vê-lo com definição para o reconhecer. Com as mãos bem seguras na cesta, pousa-a no chão e põe-se de pé sempre tapando o sol com a mão. Ele entre-põe-se entre ela e o sol, para que este não a roube de si e a sua imagem torna-se-lhe clara e nítida. Meu Deus, que perto…nunca estiveram tão próximos…sentem-se como que embriagados, as suas pernas tremem, as palmas das mãos suam mais que o habitual e os seus corpos transpiram paixão.
- Olá. Retribui-lhe ela.
- Ultimamente o destino decidiu juntar-nos algumas vezes!
- Pois! Vim trazer estas maçãs do pomar do meu pai para a decoração de uma festa que vai haver aqui hoje… parece-me, pelo menos foi o que o meu pai me disse. És convidado?
Gray engole em seco.
- Sim… parece-me…que sim. E disfarça o olhar. As maçãs são lindas…assim como tu. Diz de rompante como se não tivesse coragem de o dizer de outra forma.
- Obrigada. Diz ela baixando a cabeça e deixando os olhos de modo a continuar a fitá-lo.
- Já nos vimos algumas vezes e ainda não sei o teu nome.
- Já? Já nos vimos várias vezes? Não me parece. Lembrar-me-ia e não me lembro. Penso que é a segunda vez, ou estou enganada?
- Sim, claro! Mas…eu…já te vi outras vezes.
- Ah é? Onde?
Cândia aproxima-se da porta da cozinha, pois sabia que Linda a esperava e ela própria queria ver a fruta que iria adornar a mesa, que tinha de estar perfeita e depara-se com este estranho diálogo entre a filha do agricultor e o seu prometido e esconde-se por detrás da porta de maneira a escutar e ver o que se passa.
E Gray continua.
– Vi-te algumas vezes no bosque e é como se já te conhecesse, não sei explicar o que se passa comigo quando estou perto de ti e nem sequer sei o teu nome.
- Nem eu o teu, que pelos vistos sabes muito de mim. Riposta ela com alguma agressividade.
- Gray! Chamo-me Gray.
Nesse momento Cândia aparece, evitando o prolongamento da conversa. Linda pega na cesta novamente e volta a assumir a mesma posição tensa que tinha antes de Gray aparecer.
- És tu que trazes as maçãs, não és?
Vai direito ao assunto sem cumprimentar nenhum dos dois
- Quero vê-las, onde estão?
-Aqui. São estas.
E levanta a cesta se maneira a que Cândia as veja bem.
- Isto? Não era isto que eu queria… Eu queria maças verdes, estas não me servem. Podes ir.
E volta a entrar sem dirigir palavra a nenhum dos dois.
- Posso comprá-las? Peço-te. São lindas e fazem-me lembrar de ti.
Linda cora e sorri.
- Está bem. De qualquer forma ia levá-las de volta e o meu pai não ia gostar que ela não as tivesse querido. Mas agora tenho de ir. Adeus.
Começa a afastar-se e de repente volta-se.
- Linda.
Ele olha-a sem perceber e ela continua.
- O meu nome é Melinda, mas toda a gente me chama Linda.
E a passos rápidos sai portão fora e embrenha-se novamente no bosque.
Gray mantém-se estático, no mesmo sítio onde estava ai fica a olhá-la, com uma cesta de maças vermelhas e perfumadas, mas a sua cabeça foi atrás do desejo.
Cândia, volta a sair e surpreende-o com a cesta na mão e começa a fazer-lhe ameaças, às quais ele não dá ouvidos, volta as costas deixando-a a falar sozinha.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CAP 3

Sem muito tempo para pensar e no fundo pensando que seria um bom partido para a filha, sela o pacto com o malvado e marcam o casamento que fica acordado para menos de um mês.



Nessa mesma tarde Linda leva uma encomenda de maçãs vermelhas e perfumadas a casa de uma distinta senhora do outro lado do bosque. Ela que nada sabe do acordo que seu pai havia feito, continua a sentir-se livre, continua a sonhar com o seu amor imaginário, perde-se em pensamentos longínquos e perde a noção da realidade. Senta-se junto ao lago e imagina um jardim do Éden encantado, onde só ela e o seu amado podem entrar e onde liberta do seu mais intimo, desejos reprimidos na sua vida real.
Inclinando-se de pé sobre o lago, tentando olhar-se no seu espelhado,as maçãs que transportava numa cesta de asas caem ao mesmo e espalham-se manchando parte do mesmo de vermelho. Sem saber o que fazer, pensa entrar nele descalçando-se e mergulhando o delicado pé nas suas águas turvas cheias de nenúfares; mas não consegue chegar-lhes, se entra no lago vai ficar molhada e não poderá fazer assim a entrega. Despe-se então e mergulha nas suas profundezas como se a magia do mesmo a fizesse perder a consciência.



Os limos acariciam-lhe a pele, é um mergulho carregado de magia, os seus longos cabelos soltam-se por entre as partículas de água, movimentando-se numa dança aquática tal qual sereia do lago em deleite. Deixa-se levar abrindo os olhos e apreciando os raios de sol que penetram o encantador lago.
Sentindo-se assustada emerge.
- Que lindo! Que mágico! Quase senti a presença dela. Como ela gostava de vir comigo até ao lago. Aqui sinto-me protegida mãe!
Mergulha, abrindo os olhos novamente e aprecia o espectáculo. A claridade do sol provoca o vislumbrar de um maravilhoso mundo aquático, ente espaços de luz e tenebrosas zonas. É o brilho dourado que mais a atrai, as partículas luzidias que se transformam constantemente criando formas, dançando á sua volta. Os peixes mexem-se num rodopio sedutor, apelando ao desejo e as lianas desta selva submersa ganham vida própria e jogam com os efeitos de luz e com os seres que habitam nesse maravilhoso mundo.
Falam-lhe através dessa dança, de amor, paixão, … de pura magia.
Volta a emergir e mantém durante um longo bocado os olhos fechados na direcção do sol, pedindo-lhe mudamente que nunca lhe apague da memória tal visão.
- É aqui no bosque, junto a este lago que tanto a ele me atrai, que me sinto plenamente feliz.
Confessa-se .
Linda sente que aquele lugar guarda algum mistério ligado a ela. Será a sua mãe a responsável por tal? Porque se sente tão “ela” neste lugar de puro amor?