segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CAP12

Os raios de luz aparecem, penetram e iluminam através da janela, deixando-se raiar mais intensamente entre as cortinas.
Linda acorda suavemente, inspirando lentamente como que saindo do estado de meditação profundo. Mantém os olhos fechados, mas sente o brilho do sol através da pálpebra. Aguenta-os fechados mais um pouco. Não quer acordar. Está com medo. Aos poucos, o ligeiro sorriso de quem acorda tranquilo foi desvanecendo, acabando por desaparecer. Não quer acordar. Sente muito medo. Assusta-se, abre os olhos repentinamente e senta-se na cama. O rodar da chave na fechadura tira-a do seu semi-inconciencia e transporta-a até uma realidade á qual não quer pertencer.
A ama entra no quarto com um tabuleiro na mão, sem falar para Linda, volta-se para a porta, segura o tabuleiro só com uma mão e com a outra volta a gira a chave na fechadura, retirando de seguida as chaves da porta, guardando-as num profundo e obscuro bolso.
- Porque estou trancada?
Sentada na cama, endireita o tronco, procura-lhe o olhar, mas a ama não deixa encontrar-lho.
Sem responder á pergunta, pousa o tabuleiro na cama e dirige-se novamente á porta. Linda intimidava-a. Pela segunda vez em toda a sua vida sentia este medo.
Dee, nome da malvada ama, encontra na presença de Melinda, uma antiga sensação que lhe é familiar.







Gray dormiu escondido numa pequena casa de madeira que existe no jardim da casa de Felon. Tem o corpo dorido da posição em que dormiu., da tensão a que submeteu no dia anterior. Não sabe o que fazer, como fazer…o dia já tinha acordado naquela casa. Prepara-se para sair da propriedade, quando é surpreendido por um dos guarda-costas do dono da casa. Acompanha-o aos empurrões até ao escritório do conde, onde este já o espera.
Entra porta dentro empurrado. Felon Acaba de se sentar á secretária, cruzar a perna, balouça-se nela, entrelaça os dedos no joelho e sorri maliciosamente.
-Posso saber o que pretendes ainda por estes lados?
Pergunta Felon a Gray, sem deixar de se balouçar.
- Mantém uma mulher presa nesta casa e pretendo leva-la daqui.
É nessa altura que o conde indignado com ousadia do rapaz, se levanta da cadeira num impulso e lhe dá uma valente bofetada com as costas da mão soltando-lhe o sangue do lábio inferior.
- Como te atreves a dar opiniões sobre o que se passa em minha casa? Sobre o que faço ou deixo de fazer? Agora ponham-no daqui para fora, antes que tenha de chatear-me a sério.
Faz um gesto desprezador com a mão, no sentido da porta, a fim de o levarem rapidamente e lhe darem um trato.
Gray limpa a boca com a manga da camisa. Faz força com os seus músculos para se conseguir libertar das mãos daqueles gorilas.
- Se lhe tocas com um dedo mato-te. Se lhe fizeres mal, juro aqui mesmo que passarei o resto da minha vida a fazer-te pagar por isso.
O gorila agarra-o pelos cabelos puxando-lhos com força para trás. Felon dá ordem de o largar.
- Mas o que tens tu a ver com ela? Conhece-la donde? Posso saber? Aqui a única pessoa que manda alguma coisa sobre ela sou eu. Ela é minha, a vida dela pertence-me.
- Não tens direito de falar dela como se fosse um dos teus pertences!
- Porque não. Ela é! O pai dela fez a escolha dele e deu-ma para ser minha, por isso faz o favor de me explicar qual é a relação que existe entre ti e a minha futura mulher?
Gray não queria acreditar no que ouvia. Está louco de raiva, mas sabe que tem de manter a calma por ela. Tem a confirmação de que ela não está ali por opção. Sabe que assuntos familiares a obrigaram a aceitar este destino. Tinha de se manter calmo e agir de maneira astuta apesar de por dentro, o seu sangue atingir elevadas temperaturas ao ponto de entrar em ebulição e a sua cabeça estar prestes a explodir.
- Nenhuma.
Responde calmamente.
- Simplesmente vi ontem uma mulher entrar aqui agarrada pelo braço e nenhuma mulher se trata assim, decidi procurá-la e perguntar-lhe se estava aqui de livre vontade ou se desejava que a levasse daqui.
Inventa para ganhar tempo de raciocínio.
- Levem-no daqui e façam com que não tenha vontade de voltar.
Agarram-no pelos braços, apertando-o, transportam-no até ao pátio traseiro e dão-lhe uma sova até o deixar imóvel.







O pátio traseiro é o que alegra a vista dos quartos. Linda sentada na cama, não toca na comida. Ouve ruído lá fora, levanta-se e vai á janela. Depara-se com uma cena grotesca.
Gray é espancado pelos homens de Felon, já não tem forças, enrola-se nele, não grita, submete-se a levar.
Linda abre a janela e grita por entre as grades.
- Parem…, parem, por favor parem.
As lágrimas escorrem-lhe desenfreadamente rosto abaixo. A brutalidade da cena que ela acabou de ver, como se estivessem aos pontapés a um grande saco de areia. Chora em pranto. Corre para a porta, tenta abri-la, mas está fechada, pega na maçaneta e agita-a com a esperança de que ela se abra, mas isso é improvável. Precisa salvá-lo. O desespero apodera-se dela e cai de joelhos junto á porta, lavada em lágrimas, sem forças para se levantar, mas sem hesitar levanta-se e corre novamente para a janela.
- Parem…! Já vos disse que parassem com isso.
Grita com toda a força que tem, despertando a curiosidade de todos os que se encontram naquela casa.
- Sabem que eu sou? Não preciso dizer nem mais uma vez. Quero que parem com essa atrocidade no jardim da minha casa. O meu futuro marido não vai gostar que eu acorde com uma cena bizarra destas, mesmo debaixo do meu quarto.
As lágrimas continuam a escorrer-lhe cara abaixo. Ao longe não se vê. Só pensa em dar a volta á situação. Tirá-lo daquele sofrimento e salvá-lo. Olha para ele dobrado no chão, de olhos fechados. Sem força. Nele via, em breves instantes, o homem a quem se entregara dois dias antes, forte, meigo, o seu amor. Tem de conseguir, nem que seja com as únicas armas que tem. As mesmas de Felon. Ela.







Cãndia acorda com o barulho e dirige-se á janela. Abre-a e espreita através da mesma debruçando-se até conseguir ver as duas cenas. No chão, Gray estendido, enrolado. Na janela, duas ao lado, por cima da sua, Linda de mãos nas grades, linda até ao levantar, de ar altivo, imponente, sem medo. Intimidava-a e isso provocou-lhe um sentimento nunca por ela sentido. Recolhe-se, mete as mãos ao peito e por momentos sente que não tem aquele poder que pensava ter. O poder do amor.

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