sexta-feira, 3 de setembro de 2010

CAP 4

Gray adora montar a cavalo, em cima do seu corcel negro parece um Adónis.
De família Inglesa, bastante tradicional, Gray Wolf, seu nome, quase antes de nascer já estava prometido a Cândia, de uma família muito importante. As suas famílias sempre deram muita importância aos cruzamentos de sangue e sobretudo aos apelidos. Gray nunca concordou com essa situação e vai deixando andar, sem dar a mínima importância, nem relevância a esse tema.
Ao contrário, a sua pseudó noiva, não se conforma com a rejeição, sufoca-lhe a existência seguindo-o a todo o lado e manipulando-lhe a mente.
Nesta tarde haverá uma festa na casa grande, propriedade do pai de Cândia, esta festa destina-se a formalizar publicamente o noivado, que até ali nunca acontecera porque Gray recusa-se a aceitar a ideia de casar com alguém que não ama. Enquanto isso Cândia recusa-se a aceitar a ideia de não casar com ele e não entende como é possível que Gray não a queira para mulher.
Farto de discussões familiares provocadas por imposições da futura noiva e querendo fugir a todo aquele circo, no qual, não quer participar, monta o seu corcel negro e pega no seu cão Sneaker e vai passear para o bosque.
Sneaker não tarda em desaparecer de novo e isso traz-lhe a lembrança daquela noite.
Trota suavemente e perto do lago prossegue a pé para se poder esconder entre a vegetação.




Linda movimenta o corpo lentamente dentro de agua parando o tempo, o som das aves e outros seres nativos do bosque soam a música e ela completa o quadro com uma melodia cantarolada, elevando-o ao mais alto ponto de êxtase. Os seus seios destacam-se saindo de dentro de água, seus cabelos longos e negros conferem-lhes aquele misticismo de ninfa, não os revelando na totalidade. Gray observa de longe e sente-lhe o cheiro doce do mel.
Não pode ser real. É demasiado perfeito.
Sneaker aproxima-se dela, sem no entanto fazer ruído e deita-se junto ao lago como se a estivesse a guardar.
Endireita-se e começa a recolher as maças espalhadas pela água e a juntá-las dentro da cesta, os seus cabelos molhados tapam-lhe os seios, Ao sair do lago, a sua nudez confere-lhe um toque de quadro pintado com a alma, puxa os cabelos para junto da cara e aperta-os, libertando-os do líquido que trouxeram consigo do lago, de cócoras limpa-se com o vestido e sacode-o para o secar rapidamente. Os raios de sol penetram por entre as árvores e tocam-lhe a pele aquecendo-a.


Gray segue-a…mas Linda serpenteia-se por entre a vegetação e perde-a de vista.
Ao chegar a casa, seu pai,que dele nada sabia, relembra-o de suas obrigações para com a tradição familiar e o quanto irá prejudicá-la faltando ao compromisso com Cândia. Sem outra saída, vê-se obrigado a ir contra vontade. Mas ao chegar á casa grande sente um cheiro que ultimamente lhe é inconfundível, de acentuada doçura com o calor, o que o deixa bastante abalado. Sentada junto á porta das traseiras, onde o sol do final do dia ainda batia e que auferia á sua beleza uma deleitosa graciosidade, se encontrava ela, com a cesta das maçãs, que momentos atrás dançaram com ela dentro do lago, que tocaram seu corpo e perfumaram a sua pele. Ela, numa postura tensa, sentada de pés trocados e joelhos bem juntos a suportar a cesta, que segurava com as duas mãos bem fechadas, como quem tem medo que voltem a cair, as maças muito lustrosas e vermelhas reflectiam o brilho do sol tornando-as muito apetecíveis. Ele, parado e vidrado observa-a, como se mais nada houvesse além desta imagem e passa-lhe pelo sentido, que não podiam ser coincidências os seus encontros, estavam destinados ao amor. Nem sequer sabe o seu nome e ama-a perdidamente e sem pensar dirige-se-lhe.
- Olá!
Linda volta a face iluminada na sua direcção e tapa o sol com a mão, como se de uma continência se tratasse. E a imagem de Gray torna-se mais nítida para ela á medida que os seus olhos se vão habituando á contraluz, mas a sua imagem estava guardada e não era preciso vê-lo com definição para o reconhecer. Com as mãos bem seguras na cesta, pousa-a no chão e põe-se de pé sempre tapando o sol com a mão. Ele entre-põe-se entre ela e o sol, para que este não a roube de si e a sua imagem torna-se-lhe clara e nítida. Meu Deus, que perto…nunca estiveram tão próximos…sentem-se como que embriagados, as suas pernas tremem, as palmas das mãos suam mais que o habitual e os seus corpos transpiram paixão.
- Olá. Retribui-lhe ela.
- Ultimamente o destino decidiu juntar-nos algumas vezes!
- Pois! Vim trazer estas maçãs do pomar do meu pai para a decoração de uma festa que vai haver aqui hoje… parece-me, pelo menos foi o que o meu pai me disse. És convidado?
Gray engole em seco.
- Sim… parece-me…que sim. E disfarça o olhar. As maçãs são lindas…assim como tu. Diz de rompante como se não tivesse coragem de o dizer de outra forma.
- Obrigada. Diz ela baixando a cabeça e deixando os olhos de modo a continuar a fitá-lo.
- Já nos vimos algumas vezes e ainda não sei o teu nome.
- Já? Já nos vimos várias vezes? Não me parece. Lembrar-me-ia e não me lembro. Penso que é a segunda vez, ou estou enganada?
- Sim, claro! Mas…eu…já te vi outras vezes.
- Ah é? Onde?
Cândia aproxima-se da porta da cozinha, pois sabia que Linda a esperava e ela própria queria ver a fruta que iria adornar a mesa, que tinha de estar perfeita e depara-se com este estranho diálogo entre a filha do agricultor e o seu prometido e esconde-se por detrás da porta de maneira a escutar e ver o que se passa.
E Gray continua.
– Vi-te algumas vezes no bosque e é como se já te conhecesse, não sei explicar o que se passa comigo quando estou perto de ti e nem sequer sei o teu nome.
- Nem eu o teu, que pelos vistos sabes muito de mim. Riposta ela com alguma agressividade.
- Gray! Chamo-me Gray.
Nesse momento Cândia aparece, evitando o prolongamento da conversa. Linda pega na cesta novamente e volta a assumir a mesma posição tensa que tinha antes de Gray aparecer.
- És tu que trazes as maçãs, não és?
Vai direito ao assunto sem cumprimentar nenhum dos dois
- Quero vê-las, onde estão?
-Aqui. São estas.
E levanta a cesta se maneira a que Cândia as veja bem.
- Isto? Não era isto que eu queria… Eu queria maças verdes, estas não me servem. Podes ir.
E volta a entrar sem dirigir palavra a nenhum dos dois.
- Posso comprá-las? Peço-te. São lindas e fazem-me lembrar de ti.
Linda cora e sorri.
- Está bem. De qualquer forma ia levá-las de volta e o meu pai não ia gostar que ela não as tivesse querido. Mas agora tenho de ir. Adeus.
Começa a afastar-se e de repente volta-se.
- Linda.
Ele olha-a sem perceber e ela continua.
- O meu nome é Melinda, mas toda a gente me chama Linda.
E a passos rápidos sai portão fora e embrenha-se novamente no bosque.
Gray mantém-se estático, no mesmo sítio onde estava ai fica a olhá-la, com uma cesta de maças vermelhas e perfumadas, mas a sua cabeça foi atrás do desejo.
Cândia, volta a sair e surpreende-o com a cesta na mão e começa a fazer-lhe ameaças, às quais ele não dá ouvidos, volta as costas deixando-a a falar sozinha.

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