quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CAP 10

Linda abandona agora a casa que a viu nascer.
Dela só leva a esperança, de que salvará a única herança de família que a ligava á sua mãe. Na mão, apenas uma bolsa de veludo cinza, que Elsa muito estimava, no coração transporta a sorte de ainda ter sido amada como sempre sonhara. Pensa em Gray. Onde estaria ele, se teria sido tão importante para ele como fora para ela?
Sentada dentro do carro, escoltada por homens que não eram da sua confiança, ao lado de um outro sem escrúpulos, que desejava o seu corpo, mas que nunca o teria como seu, pois ele já pertencia a outro, Linda observa a casa já de fugida, o jardim da mesma, a entrada do bosque. Recorda a sua mãe e as palavras dela surgem no seu pensamento de uma forma real.
- Meu amor, se um dia eu não estiver a teu lado, cuida da nossa casa. O bosque, o lago e todos os seres que nele habitam, sempre te vão proteger, eu sou como eles, são a nossa família.
Enquanto criança Melinda nunca encarou estas palavras, como se pudessem ser válidas algum dia, soavam-lhe a conto para dormir. Agora sabia que era verdade. Aquele bosque protegia-a e no lago sentia a presença de Elsa, com quem aprendera a adorá-lo.
A noite traz o murmúrio das aves sábias até ela, conferenciam, algumas corujas emitem sons que podem até parecer musicais aos ouvidos humanos.
- O que me dizes?
Pergunta ela em pensamento, em resposta á mensagem que lhe trazem.
- Onde está?
Procura com a cabeça, aflitivamente de um lado para o outro. Volta-se para trás, ajoelhando-se no banco, deixando Felon irritado. Através do vidro traseiro da viatura, avista junto ao jardim de sua casa um vulto, que ansiosamente identificou.
- Volta-te já para a frente.
Diz-lhe Felon em tom de pessoa não amada. Linda, volta-se suavemente, deixando para trás a certeza de que ele também a amava e a incerteza de que mais alguma vez se iriam poder tocar. Provavelmente aqui seria o final do que podia ser uma linda história de amor.







Cândia sabe que alguma coisa se vai passar. O conde tinha dado ordem aos empregados que arrumassem o quarto que outrora fora o cativeiro de sua mãe. Ela sabia ao que seu pai a sujeitara antes de ela nascer, até ao seu fim. Sempre lhe argumentaram o espírito indomável que tinha e que o seu pai, algumas vezes tinha de a pôr em reclusão para pensar nos seus actos, ela sempre acreditara na historieta.
Está agitada com a surpresa, mas não deixa que as decisões do seu pai interfiram na sua vida, ela tem agora outras prioridades no seu pensamento. Os seus tenebrosos preparados aguardam em repouso o dia em que se libertarão e cumprirão as promessas feitas ao seu criador.







O carro estaciona frente á casa grande. Linda que se mantém absorta em pensamentos, encara agora o real facto de já ter estado ali. O seu rosto, normalmente feliz, transmite uma assombração e tristeza ao mesmo tempo.
- Para onde me traz?
Pergunta ela com ar de quem foi levada para ser aprisionada.
- Esta é a partir de hoje a casa onde vais viver.
Responde-lhe Felon com um sorriso malicioso, provocando-a, mas ela não deixa transparecer a raiva que sente e ignora-o.
Fecha os olhos suavemente, inspira prolongadamente, prepara-se para sair do carro e encarar a nova vida que o destino lhe reservara.







A velha ama tenta ajudá-la com os seus sacos, o que ela recusa agarrando-os bem contra si. Ninguém naquela casa tocaria nas suas coisas. Nunca! A maior parte dos seus pertences, são recordações da sua mãe, ninguém ousaria mexer-lhes, pelo menos enquanto ela pudesse evitar.
A ama, sussurra baixinho, enquanto a acompanha ao seu quarto, subindo vários lances de escadas até lá chegarem. Deixa-a entrar no compartimento que a ela está destinado, lentamente fecha a porta, saindo sem dizer palavra e tranca-a, fazendo-a sair disparada até á maçaneta da porta ao ouvir a chave rodar na fechadura, girando-a várias vezes com as duas mãos, sem no entanto, obter resultado. Está, realmente, prisioneira.

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