O final de tarde quente de inicio de verão já refrescara e o sol que há momentos iluminara a sua amada já se pusera dando origem a um mágico lusco-fusco, deixando aparecer do lado oposto uma linda lua redonda e luminosa num céu ainda claro.
É praticamente noite.
Em casa de Melinda, seu pai espera-a.
Ela não aparece. Uma visita inesperada aguarda juntamente para acertar alguns pormenores do enlace.
Linda desconhece esta situação, ela viaja por outros orbes, nunca imaginando o fado que o pai lhe reservara.
Austero circula em casa de um lado para o outro ansioso, enquanto o conde com semblante rude, sentado na poltrona do dono da casa, de pernas cruzadas e dedos entrelaçados segura o joelho e marca os segundos com o bater dos polegares no mesmo.
Linda não aparece, parece que prevê o que a espera.
Desde que saiu a correr da casa grande que não caiu em si, atravessa agora o bosque que o lusco-fusco transforma num misto de tenebroso em mágico lentamente, em sua perseguição está Gary, que tudo abandonou para a seguir e de uma vez por todas dizer que a ama.
A lua que começara a aparecer surge e ilumina o lago que em cristal se torna, o sopro quente agita as folhas e um cheiro doce até ele chega, abrindo-lhe o caminho até ela que junto ao lago o espera e pede a todos os elementos que a rodeiam que parem o tempo e a deixem viver eternamente esta sensação de euforia que ruborizam a sua face. Olham-se! Já nada os separa. Tocam-se. Os seus corpos ficam de repente quentes e húmidos, fazendo-os perder a noção da realidade. Não pertencem á mesma realidade de ninguém, só á sua própria. As suas bocas entram em fusão e durante instantes a alta temperatura que os envolve quase os leva a tornarem-se num só.
Entram lentamente dentro de água, como se os elementos também se fundissem. O brilho da lua envolve-os numa espécie de capa que os torna invisíveis, o que os deixa amarem-se sem serem vistos…sem nenhum pudor.
Ela abraça-o com as pernas e os braços enquanto ele lhe cheira a pele e se deleita deitando a cabeça em seu pescoço, parecendo dois cisnes aninhados…e o tempo pára até já ser madrugada. O sol não vai tardar em nascer, acordam tapados com a colcha de retalhos que o manto de folhas secas que cobre o chão teceu para eles.
- Meu Deus tenho de ir, já é quase dia, o meu pai vai-me matar!
- Fica! Nunca mais me deixes, morrerei se o fizeres.
- Nunca passei uma noite fora de casa, nunca me entreguei a ninguém… o meu pai vai matar-me, tenho de ir.
Afaga-lhe a cara, beija-lhe lentamente os olhos, o nariz, a face e a boca, levanta-se, pega no resto da roupa que não vestira ainda, fazendo-o então.
- Amo-te Gray.
Anuncia-lhe ela ao ouvido, parecendo temer que alguém ouvisse e desata a correr em direcção a casa.
É praticamente dia e o bosque enche a alma dos animais que nele habitam. Comunicam entre si e entram em junção plena com o universo. Elevam a magia que nele existe. Os pássaros esvoaçam em grande magnitude, alimentam-se, cumprimentam-se, lavam-se, este também é o seu mundo, guiam Linda no seu percurso de volta a casa, enquanto no chão, outros animais também o fazem protegendo-a dos mistérios que aí se escondem.
O lago acorda também, a luz penetra nele. As relas cantam para Gray, contam-lhe histórias em musica. Ele deixa-se estar agachado junto da baía de juncos que o lago detém á sua beira. Parece um príncipe das arábias, de cabelos soltos. Pele morena do sol, barba por fazer, de camisa aberta emanando perfume de amor, faz um caço da sua mão e enche-o de água baça e leva-o á cara lavando-se. Deixa escorregar a água por dentro do decote e inspira profundamente. Procura o cheiro dela e grita bem alto e de olhos bem cerrados.
- Linda… amo-te!
Os pássaros que escoltam Linda a casa, ouvem o ecoar do grito de Gray e entregam-lho. Ela semi-serra os olhos, volta a cabeça para trás, sorri como uma menina sorri depois da sua primeira, temida e ansiada primeira noite de amor e volta a caminhar.
Ela dirige-se agora para a toca, pensa que ela a acolherá, e às suas paredes contará a mais alucinante história de princesas que qualquer menina, mesmo que não o confesse, quer para si. Ao contrário, Melinda caminha em direcção á mais malfadada história de amor.
Este é um capitulo de sexta á noite, cheio de paixão para inspirar o fim de semana.
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