segunda-feira, 6 de setembro de 2010

CAP 6

A casa do agricultor é pequena, de pedra e um candeeiro ilumina-lhe a entrada. Apesar da luz do dia estar prestes a raiar, deixa antever que no seu interior alguém espera a sua chegada, mas não sabe de que forma e tem medo. Aguarda algum tempo no exterior da casa que o nascer do dia lhe auspicie algo. Circunda a casa, sem fazer barulho e consegue entrar em seu quarto pela janela, que se encontrava entreaberta. Entra na cama e tapa a cabeça, o medo invade-lhe a alma que sangra de amor no mais íntimo do seu ser.
A porta do seu quarto estivera sempre fechada, Linda nem se lembrou de tal, o seu pai acreditara que ela se encontrara indisposta ou que talvez desconfiara do triste destino que se-lhe auspiciara.
O pai já não se encontra em casa, é nessa altura que decide sair da sua redoma e encarar o dia…o que não será fácil.
Dirige-se á cozinha para comer algo e pega numa maçã, nunca uma falara para si. Ao olha-la, toda polida e brilhante, o seu reflexo aviva-lhe a apaixonante história que vivera o dia anterior e o seu coração dispara velozmente ao mesmo tempo que se prepara para sair porta fora com a ela na mão.
Á porta esperavam-na três homens de aspecto crespo que automaticamente se levantam no momento que a vêem e barram-lhe a saída.
- O que querem?
Pergunta linda escondendo-se rapidamente por detrás da porta.
- Quem são vocês? Volta a perguntar cravando as unhas na espessura da porta.
- A menina não pode sair de casa. Estas são as ordens que temos. Não podemos deixá-la sair. São as ordens do conde.
- Do conde? Pensa ela. E fecha a porta sem retornar palavra. Encosta-se á porta, como se a estivesse a barricar, fazendo força com as costas contra ela e os pés meio estendidos ajudam a fazer mais força, caso alguém tente entrar, e montes de ideias passam pela sua cabeça. A primeira coisa em que pensa é, que não conhecia nenhum conde e não fazia ideia de porque a obrigava a manter-se cativa em casa. A segunda foi quase seguida. Onde estaria o seu pai e o que teria ele a ver com a situação. Teria o conde algo a ver com Gary? Seria seu pai? Seria o Gary conde? Não podia ser e se sim, porque a manteria cativa em sua própria casa. O que teria acontecido? Tinha de descobrir. A última foi, como chegar o mais rápido á janela do seu quarto e fugir. Mas a janela também estava escoltada. Tentou espreitar por entre as cortinas de todos os compartimentos da casa, observando minuciosamente todos os pormenores do inimigo, pois, podia não saber o que se estava a passar, mas uma coisa era certa,…era um inimigo.
Avista seu pai, com ar cansado e arrastado aproximar-se da porta das traseiras, abre a janela e apronta-se a chamá-lo, sem saber muito bem se teria ele conhecimento, ou não da situação, mas ao mesmo tempo imaginando pela descontracção com que se aproximara dos homens, que seria algo de que ele teria conhecimento, e recolhe-se sustendo a respiração e esperando o pior.
Austero raspa as botas cheias de lama seca e poeira no tapete de corda que os pés da porta calçam, encostando o cotovelo na ombreira da mesma, limpa o suor da testa com as costas da outra mão e entra em casa.
- Onde andaste ontem? Pergunta Austero á filha com uma calma estranha.
- Senti-me doente e fiquei no quarto a tarde toda, acabando por adormecer noite dentro, este calor deixa-me bastante sonolenta.
- Bati-te á porta varias vezes, chamei-te alto e em bom-tom. Não ouvistes nada! Está bem.
Não se conforma, mas não tem provas. Levanta o sobrolho, torce a boca mordiscando o lábio inferior em tom de ironia e acena que sim com a cabeça.
- O que se passa aqui pai, quem são estes homens? Quem é o conde?
Pergunta aflitivamente.
- O teu futuro marido. Casas, mais ou menos daqui a um mês.
- Porquê pai, porquê? Pergunta Linda ao pai, parecendo uma menina pequena assustada que não entende as injustiças do pai.
- Não estou a entender. Não conheço nenhum conde.
Por momentos ainda lhe passou pela ideia que pudesse Gray ser conde, que o pai tivesse descoberto o que se passara entre eles na noite anterior e que o pai o obrigara a assumir e sente-se estremecer. Afinal ela vira-o na casa grande, poderia ser um conde, ele conhecia Cândia. Quem seria o homem a quem ela se entregara? Nada sabia sobre ele. O que tinha ela feito?
- Ele virá cá hoje, não tarda em saberes tudo. Só quero o melhor para ti. Esta pode ser uma boa oportunidade de ficares bem quando eu um dia não estiver, vais ter um bom futuro.
- Pai!
- Toma um bom banho e arranja-te. Quero que te componhas.
Volta-lhe as costas austeramente e deixa-a estática, de olhos bem abertos, em pânico, sem nenhuma explicação.








Melinda sente-se só. Cruza os braços no pescoço e escorrega as costas nuas pelos azulejos da banheira até ficar sentada abraçando-se, enquanto a água lhe refresca os pensamentos e ensaia lavar-lhe a alma. Pergunta-se e pergunta-se o porquê. Teme o pai. Não sabe quem é Gary. Mas ele não podia ser, tinham estado sós no bosque, não havia mais ninguém, o bosque ter-lhe-ia dito e o lago também.







Já de banho tomado e vestida, Melinda aguarda no seu quarto que o pai a chame. Sentada na borda da cama, com ar de quem perdeu a felicidade e não sabe como lidar com a situação. Levanta-se e deambula pelo quarto sem noção do que faz, dirige-se á janela, espreita através dos seus cortinados e marca o tempo com o palpitar do coração.
Apercebe-se então da proximidade de alguém e pede a Deus que seja Gray, mas não é.
O homem acompanhado pelos outros que antes a impediram de sair, não lhe é completamente estranho mas não se consegue recordar de onde. Remexe as suas memórias, na tentativa de receber uma resposta que lhe acalme o espírito. A imagem daquele homem está cada vez mais clara, só tem de se concentrar.

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