terça-feira, 7 de setembro de 2010

CAP 7

Sir Anthony, pai de Gray, manda-o chamar à sua biblioteca.

Gray dirige-se á mesma com os olhos brilhantes, a sua felicidade contagia todos com quem se cruza. Sneaker, partilha a mesma com o dono circundando-o com a língua de fora e abanando freneticamente a cauda.

Gray baixa-se para o afagar por detrás das longas e macias orelhas.

- Sneaker, lembras-te da rapariga do lago?

Abana-se e ladra, pedindo ansiosamente que desenvolva o tema.

- Amo-a. Recordas-te que te repeti várias vezes até casa naquele dia que te fui buscar ao pé da casa dela como ela é linda?

- E não é que é mesmo!

- Linda. Chama-se Linda e eu não consigo pensar em mais ninguém…em mais nada. Acreditas?

Sneaker partilha a alegria do dono, volta-se ansiosamente na direcção do bosque, começa a correr elegantemente voltando-se para trás chamando-o com um latido.

- Sneakers, vem cá amigo. Agora não dá, mais logo. Tenho de ir falar com o Sr. Meu Paizinho, imagino que vou levar um descasque.

Diz em ar de um gozo cínico.





Com a sua berçada educação, bate com os nós dos dedos á porta e pede para entrar.

A biblioteca da família Wolf é enorme, toda ela revestida a veludo vermelho sangue acolchoado e os móveis bastante trabalhados de madeira quase negra. De uma inexplicável grandeza snob. Ao entrar nela é como se se entrasse num espaço eclesiástico, a fim de confessar os “ seus” pecados. Tem tantos livros, mas a maior parte é espólio familiar, a imagem é o que mais conta e uma boa biblioteca tem de ter muitos livros, Assim pensa a linhagem Wolf.

Gray cumprimenta o pai com um beijo na face e este mantêm-se impávido.

- Imaginas o que a tua atitude causou ontem, não imaginas?

- Nada disso para mim faz sentido, não sabes?

Responde-lhe sem hesitar.

Mostrando indiferença ao sermão que o seu pai lhe dá, avista o bosque da janela e procura nele a imagem do seu amor, vagueando-lhe a mente por entre desejos, anseios e a tarde quando nele cai, que se cobre da uma magia e encantos, cheiros doces e frescos e o coração acelera-se-lhe.

Sir Anthony salta da cadeira dirige-se-lhe, encontrando-se ele noutro mundo, enrola a sua mão grande e bem tratada ao cabelo do filho fazendo-o olhá-lo na cara com a cabeça tombada para trás e grita-lhe ao ouvido.

- Sabes o que a tua linda brincadeira causou ontem á nossa família? Sabes? Tens noção de que nos prejudicas-te a todos? A tua mãe está fechada no quarto, não quer ver ninguém de tanta vergonha que sente…Porta-te como um homem e vai tratar de resolver esta situação. Ouviste?

Berra-lhe ao ouvido, deixando-o quase surdo do mesmo.

Vai-lhe soltando o cabelo lentamente deixando-o escorregar por entre os dedos e termina com um rematante safanão acompanhado por um empurrão na face.

Não sabia o que fazer. O que teria acontecido a noite passada em casa de Cândia? Porque estaria a sua mãe tão perturbada se sabia de antemão que ele não amava a mulher que lhe destinaram e que nunca tivera intenções de casar com ela, sua mãe sabia-o e sempre estivera de seu lado contra o pai. Porquê?

Rapidamente dirige-se ao quarto onde sua mãe está trancada por dentro.

- Mãe, abre. Abre por favor, sou eu Gray.

Ouve-se a chave a rodar dentro da fechadura e a porta abre-se.

- Então mãe, o que se passa? Não posso crer que tenham feito um bicho-de-sete-cabeças por não ter ido jantar? Já deviam saber que não faria questão de assumir nada. O pai passou-se completamente e quase me bateu na biblioteca. Sinceramente, não pensaram que eu assumiria algo ontem á noite, até foi uma sorte não ter ido, a vergonha seria maior ao eu negar este compromisso publicamente.

- Filho…o Conde Felon ontem chegou atrasado e muito amargo ao jantar. Parece que também ele se vai casar e ia aproveitar a situação e anunciá-lo, mas a sua noiva não pode comparecer, disse que se indispôs á ultima hora. Junto á amargura que já o define junta-se-lhe a ira da tampa que levou da noiva e por fim o tu não apareceres e a birra que Cândia fez por esse motivo, fê-lo começar a discutir com toda a gente e teu pai não foi poupado, difamando-o publicamente, contando a todos os presentes as dividas e penhoras que teu pai tem, rematando que tu também não eras homem para casar com a filha dele, que ela merece alguém á altura, o teu pai não aguentou e agrediu-o, tende-nos posto fora da casa grande. Gray…estavam lá repórteres e fotógrafos a cobrir o evento. Vai ser um escândalo! Vamos aparecer em todas as revistas e jornais. Que vergonha.

Baixa a cabeça e esconde-a entre as mãos que suportam as lágrimas.

- Oh mãe, desculpa, mas eu não me preocupo com essas coisas como vocês. A mim dá-me igual as revistas, nem sabia, nem imaginava que Cândia quisesse publicitar a nossa vida a revistas, mas peço-te desculpa pela situação, não sei que te dizer…nunca pensei…vou lá agora resolver este problema. Não te preocupes, tudo se vai resolver. Logo hoje que estava tão alegre, não é justo… Mãe…estou a amar.

Ela levanta a cabeça, a cara inchada e os olhos derramados do choro deixam-se ver.

- Como assim?

- Estou apaixonado. Nunca amei assim. Hoje devia ser um dia de alegria nesta casa. Tanto tempo preocupados comigo, porque não me interessava por ninguém, porque não tinha namorada. Pois agora tenho. E é Linda!

A mãe pede-lhe a mão e puxa-o até si. Beija-o na face com carinho e abraça-o, dando-lhe aquele apoio de mãe, que muito ama o filho e só quer que seja feliz.

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