Arqueado, com a mão a segurar o estômago, corre rasgando o bosque. Precisa chegar a casa de Linda e alertar o seu pai, fazendo-o cair em si e no resultado da sua atitude. A casa está próxima, já se avista, O sol está alto e a manhã quente, Gray encosta a mão á parede da casa, sente o calor que dela vem, tenta respirar fundo, mas as dores nas costelas impedem-no de o fazer. O calor da pedra carrega-lhe algumas energias que o fazem continuar. Bate á porta. Ninguém abre. Procura a presença de alguém no jardim e quintal, curva a esquina da casa. Á sua frente, um vulto a contra luz, pende balançante de um carvalho. Gray recorre ás suas ultimas energias e dirige-se-lhe correndo. Procura. Uma cadeira jaz caída. Pega nela. Levanta-o pelo tronco. Grita de dores. Não consegue. Salta da cadeira, grita e chora de raiva ao mesmo tempo. Seria ele o pai de Linda? Só o vira uma vez. Procura algo cortante. A expressão daquele homem. Sobe novamente, corta a corda e trá-lo para o chão. Posiciona-lhe bem a cabeça., alarga-lhe a corda no pescoço, sente-lhe o pulso. Acabou. Olha-o, com a sua mão na do defunto, fala-lhe, diz-lhe que ama a filha e que fará tudo para salvá-la. Do bolso do seu casaco um pedaço de papel deixa-se ver. Gray puxa-o. Uma carta dobrada. Desdobra-a.
- Para Melinda.
Gray dobra-a novamente e mete-a no seu bolso. Levanta-se, leva as mãos á cabeça. Tem de avisar a polícia. Tem de sair dali e denunciar Felon. Seria suicídio, ou teria algum mandatário? Estava todo rasgado, sujo, tinha dores no corpo todo. Dirige-se a casa, ali já não podia fazer nada.
Rosa vê o filho entrar em casa naquele estado e desespera.
- Passei a noite em claro sem saber de ti. Já sabia que alguma coisa ruim tinha acontecido, o coração de uma mãe não se engana. O que foi que fizeram contigo?
- Agora mãe não posso explicar. Preciso de ligar para a polícia. Está um homem morto na casa junto ao bosque. Alguém tem de ir lá. Tenho de tomar um banho e ir ao hospital.
- Como é que está um homem morto? Porquê? O que tens tu a ver com isso? Pelo amor de Deus, diz-me o que se passa.
-Não tenho nada a ver com o homem morto. Simplesmente fui eu que o encontrei já moribundo.
- E quem te fez isso?
- Não importa agora mãe. Por favor. Eu depois explico-te. Agora ajuda-me.
Rosa ajuda o filho com auxílio do capataz da casa, a ir até ao hospital, onde o curam e aconselham repouso imediato.
- Duas costelas partidas. Está na hora de falarmos e dizeres-me quem te fez isso.
- Mãe, não te enerves, por favor. Eu explico.
A polícia faz perguntas a Gray. Este fala-lhes do homem que deixara defunto na casa do bosque e do motivo porque se encontrava ali, das suspeitas contra Felon, que mantinha uma mulher refém em sua casa. A polícia dá inicio á investigação, mas informa-o da dificuldade de poder fazer algo sem provas concretas. Pedem-lhe que não se ausente, Gray promete não o fazer. Ele tinha de se manter por perto, tem de chegar até ela, tem de lhe entregar a carta em mão, tirá-la dali, se essa for a sua vontade. E se não é? Ele ouviu-a pela manha, a dar ordens aos homens, como dona da casa. E se ela quer ali ficar? Como irá ela ficar depois de saber o que aconteceu com o seu pai? Tem de falar com ela, vê-la, tocar-lhe, senti-la, cheirá-la.
Linda passeia pela casa, até parar junto de um canteiro de flores a apreciá-lo.
Enquanto isso, no interior da mesma, as duas iníquas instigam.
- Eu nem quero acreditar, no que acabei de ouvir. Se ela julga que me vai fazer frente, está muito enganada. Não outra vez.
Exclama Dee. Cândia, mexe-se de um lado para o outro, pensa sem parar de mexer no cabelo.
Uma joaninha esvoaça de flor em flor, Linda estica a mão e deixa-a pousar nela.
- Tens a mania, não tens?
Cândia pega no pulso de Linda faz alguma pressão, fazendo a joaninha esvoaçar longe.
- Não, porquê?
Responde-lhe descontraidamente.
- Achas-me manienta?
- Acho-te uma parola. Acho que não sabes qual é o teu lugar.
- E qual é?
Cândia olha-a de ar empinado e esboça um assoprado sorrisinho.
- Nem sei quem tu és. A única coisa que sei, é que o dono da casa me trouxe para cá, disse-me que a partir de hoje esta seria a minha casa e eu só quero sentir-me como se estivesse na minha casa.
- Para tua informação, o dono da casa é o meu pai.
- Pois muito prazer, já que dentro de pouco, pelos vistos vou ser a tua madrasta.
Volta-lhe as costas e entra em casa.
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